quinta-feira, 24 de março de 2011

Os Poderes São Efémeros

Rubricavam os decretos, as folhas tristes 
sobre a mesa dos seus poderes efémeros. 
Queriam ser reis, czares, tantas coisas, 
e rodeavam-se de pequenos corvos, 
palradores e reverentes, dos que repetem: 
és grande, ninguém te iguala, ninguém. 
Repartiam entre si os tesouros e as dádivas, 
murmurando forjadas confidências, 
não amando ninguém, nada respeitando. 
Encantavam-se com o eco liquefeito 
das suas vozes comandando, decretando. 
Banqueteavam-se com a pequenez 
de tudo quanto julgavam ser grande, 
com os quadros, com o fulgor novo-rico 
das vénias e dos protocolos. Vinha a morte 
e mostrava-lhes como tudo é fugaz 
quando, humanamente, se está de passagem, 
corpo em trânsito para lado nenhum. 
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria 
dos seus títulos afundados na terra lamacenta. 

José Jorge Letria

Sem comentários: