domingo, 8 de julho de 2012

Livros ...

"Há os livros que antes de lidos já estão lidos. Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos. E há os que nos regateiam a leitura e que pedimos humildemente que se deixem ler todos e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações e jamais se deixam ler de uma vez para sempre."


Vergílio Ferreira 

Sempre e desde cedo que leio bastante. É politicamente incorrecto, mas ler todos os livros que existiam lá em casa, mais os que trocava com os amigos e os da biblioteca lá do bairro enquanto fingia que estudava, contribuiu para que a partir do segundo ciclo as minhas notas passassem a ser decepcionantes. Os professores não percebiam a razão, os pais também não. Tinha horas marcadas no escritório, porque chegaram à conclusão que não devia continuar a estudar no quarto, pois me distraia. A secretária tinha uma gaveta estreita logo por baixo do tampo, era óptima para colocar o que gostava de ler, enquanto os livros de estudo descansavam abertos em cima da secretária. Se, alguém por lá aparecia. era só encostar-me à secretária e a tal gaveta fechava. Livros que me desassossegaram por motivos muito diferente foram o 'Diário de anne frank' (porque os meus dez anos, idade em que o li colocaram-me na 'pele' daquela outra menina). Por motivo diferente foi a frustração de só conseguir ler escassas páginas dos Tomos de Alexandre Herculano, a leitura era difícil para a idade, mas quando não conseguia nada novo voltava à leitura, sempre com igual resultado. Passaram anos até voltar aos romances e crónicas históricas portuguesas.
A maior alegria foi quando me foi concedida permissão para aceder à completíssima biblioteca dos meus padrinhos, por volta dos meus 12 ou 13 anos. De tal modo, que não saia de lá, julgaram que estava doente, o meu comportamento passou subitamente de irreverente e irrequieta para uma passividade que eles desconheciam.
Hoje em dia, continuo a ler muito, mas sou muito mais selectiva. É importante para mim que o que leio me traga conhecimento, seja factual, experimental ou mesmo de sentimento. A escrita tem de me transportar para o interior da cena , no caso do romance. Na ficção os dados e a imaginação do autor tem de ser coerentes com hipóteses não demonstradas mas com fundamentos possíveis, caso contrário deixa de me interessar. Quanto à poesia deve despertar a emoção e o nosso sentir  ou transmitir as sensações por outros vividas e que nos possam trazer uma nova luz.
E, sim. há livros aos quais voltamos sempre. E, sim, por mais livros que se leiam. não faz de nós bons escritores. A escrita é um dom a que só alguns têm acesso.

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