quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

Saiba Como Vai Este País

Marine Le Pen “recuperou o eleitorado do PCF”. A “preferência nacional” - um slogan que o próprio PCF usou no passado - tornou-se especialmente atrativa para os trabalhadores mais pobres. E é precisamente este modelo que o Chega parece querer replicar: apresentar-se como a “direita que defende os trabalhadores”, ocupando um espaço político que a esquerda deixou vago e que a direita tradicional nunca reivindicou. A conquista de uma base eleitoral sólida, que o Chega ainda não tem, passa inevitavelmente por aqui. Sem essa base, dificilmente se afirmará como um grande partido nacional, no médio e longo prazo. (...)   (Filipe Alves, DN)

Marine Le Pen “recuperou o eleitorado do PCF”. A “preferência nacional” - um slogan que o próprio PCF usou no passado - tornou-se especialmente atrativa para os trabalhadores mais pobres. E é precisamente este modelo que o Chega parece querer replicar: apresentar-se como a “direita que defende os trabalhadores”, ocupando um espaço político que a esquerda deixou vago e que a direita tradicional nunca reivindicou. A conquista de uma base eleitoral sólida, que o Chega ainda não tem, passa inevitavelmente por aqui. Sem essa base, dificilmente se afirmará como um grande partido nacional, no médio e longo prazo. (...)   

Os resultados do Chega no Alentejo e nas periferias de Lisboa e Porto, antigos bastiões comunistas, apontam nessa direção. Mas, tal como noutros países, o apelo do populismo de direita não se limita às classes operárias. Uma parte da classe média - composta por funcionários públicos e trabalhadores do setor privado que perderam poder de compra nos últimos 15 ou 20 anos - também se sente atraída por este discurso. A chamada “maioria sociológica de esquerda”, tantas vezes evocada, corresponde na verdade a uma preferência maioritária por um modelo que combine liberdade económica com proteção social. (...)

Durante meio século, essa maioria encontrou representação no PS e no PSD, que consolidaram em Portugal uma economia social de mercado ao estilo europeu. Aí reside o centro de gravidade da política portuguesa: a maioria dos eleitores rejeita tanto uma economia totalmente liberalizada e desregulada como os modelos radicais da extrema-esquerda. Com este contexto favorável, se nas últimas décadas o PS e o PSD tivessem conseguido promover mais crescimento económico, melhorar as condições de vida, combater a corrupção e controlar a incompetência e a avidez de alguns dos seus quadros, o panorama seria outro. Partidos como o Chega ou a IL dificilmente teriam emergido e florescido. O seu crescimento rápido deveu-se aos erros que os dois grandes partidos do nosso rotativismo cometeram nas últimas décadas, perdendo a confiança de muitos milhares de portugueses. (...)

Entretanto, o contexto político teve um importante desenvolvimento esta quarta-feira. Com o arquivamento do caso Spinumviva, desapareceu a grande nuvem negra que pairava sobre o Governo da AD. O Executivo de Luís Montenegro tem agora condições reforçadas de estabilidade, tornando menos plausível um cenário que foi equacionado por muitos nos últimos meses, a respeito da eventual emergência de um novo líder do PSD que estivesse disposto a abrir a porta a um entendimento com Ventura. Este fator altera o tabuleiro político: se o Chega quiser crescer, terá de o fazer por via própria, fazendo oposição, conquistando eleitorado e consolidando uma base social que ainda não tem - e não esperando que o PSD lhe abra caminho para o poder. É neste contexto que ocorre esta aparente viragem do Chega. Veremos se este rumo é para manter.

Satélite


Fim de tarde.
No céu plúmbleo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.

Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
— Satélite.

(Manuel Bandeira)