Hoje Lisboa é o destino da moda e o melhor destino do Mundo. Os ‘liners’ repletos de turistas sobem o Tejo com um perfil imperial. Os aviões são manchas negras no Sol. Entrar em Lisboa é regressar a parte de uma Europa remota e esquecida, um estranho aglomerado onde se cruza o Norte de África com o Médio Oriente, o Islão com a Cristandade, Roma com Cartago e a Grécia. Lisboa resulta num lugar exótico, um exotismo cosmopolita à maneira do Cairo antes da Primavera Árabe. É fácil imaginar Agatha Christie nas ruas de Lisboa como se fossem as ruas de Aleppo, na Síria, no início do século XX, e a escrever “Crime no Expresso do Oriente” no quarto 203 do Hotel Baron.
Nas estatísticas, Lisboa recebe por ano entre 4,5 e 6 milhões de turistas, tem um ratio de 9 turistas por cada residente e exibe uma densidade de 300 turistas/km2.
A última vez que Lisboa conheceu um tão grande afluxo de gente foi em 1940, quando os judeus da Europa encontraram na cidade o último portão aberto do imenso campo de concentração do Continente. Estima-se que entre 1940 e 1941 cerca de 100.000 pessoas conseguiram chegar ao purgatório pacífico garantido pela neutralidade portuguesa na II Guerra Mundial. Nesses dias varridos da memória nacional, a Baixa repleta de gente era o centro cosmopolita da cidade, com os cafés cheios em que língua mais falada era o alemão e o eléctrico 28 subia para a zona da Estrela alimentado pela energia eléctrica do polaco que se falava a bordo. Encalhado no extremo da Europa, Saint-Exupéry referia-se a Lisboa como um “paraíso claro e triste” que “sorria com um sorriso um pouco pálido”. A Guerra acabou, tudo passou, nada ficou.
(Excertos do artigo de Carlos Marques Almeida, ECO)
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