terça-feira, 21 de maio de 2024

A Frase (118)

A violência contribui para um círculo vicioso de polarização. A agressividade no discurso conduz a atos de violência, que por sua vez reforçam a perceção de que o outro lado é uma ameaça. Os extremistas não vêm os outros políticos como oponentes, mas como inimigos a serem destruídos e derrubados. Isto aumenta o clima de medo, mina a confiança nas instituições democráticas e torna impraticável um ambiente de compromissos conjuntos e de cooperação. As vozes dos moderados são abafadas pela gritaria dos extremos. Tal conduz a uma incapacidade de se realizarem reformas estruturais, sem pontos de encontro num chão comum, e com os populistas centrando-se em ganhos políticos no imediato. A política transforma-se num campo de batalha para a aniquilação do outro, ao invés de cumprir a missão de servir as pessoas, resolvendo os seus problemas com ação e concretização de soluções. Compromete-se, assim, a estabilidade política e a paz social e corrói-se a nossa democracia.       (Ana Gabriela Cabilhas, DN

Objectos Perdidos


Nas veredas de sonho e residências surdasos
teus vencidos verões apressam-me com seus cantos
Uma cifra vigilante e sigilosa
vai pelos arrabaldes chamando-me, chamando-me
mas o que falta, diz-me, no diminuto cartão
onde estão o teu nome, a tua rua e o teu desvelo
se a cifra se mistura com as letras do sonho,
se somente estás onde já não te busco.

(Julio Cortázar)

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

O Progresso É Impossível Sem Mudança

Aqueles Que Não Conseguem Mudar As Suas Mentes Não Conseguem Mudar Nada.


1- Mais do que uma fraqueza perante as palavras de Ventura, o que incomoda a esquerda no episódio Aguiar-Branco é que ele representa um novo sinal de que, desta vez, o centro-direita e a direita moderada não vão governar de forma politicamente ingénua. 

Mesmo quem foi mais próximo de Passos Coelho aponta ao antigo primeiro-ministro a falha política de não ter refrescado o pessoal dirigente do Estado. (...)
Montenegro não é Passos Coelho, e sabe bem que o seu sucesso depende de colocar pessoas competentes, mas da sua confiança, em lugares-chave da administração. Isso já começou em força, e tem incomodado sobremaneira os partidos de esquerda. Ao esvaziar o balão das polémicas inúteis de Ventura, Aguiar-Branco deixa claro que não vai contribuir para o crescimento artificial do Chega. Mais do que o combate ao racismo, o que está em causa é o fim da ingenuidade política da direita moderada.  (...)             (Carlos Rodrigues, CM)

2- Para azar de Ventura, o actual primeiro ministro começou a “mostrar serviço”, e a marcar a agenda política, sem “papas na língua” no debate quinzenal. Um azar nunca vem só…

Subitamente, o vento mudou. E a “meteorologia” política parece estar mais favorável e a correr de feição a Luís Montenegro e ao governo. (...)

O Chega, depois da surpresa das Legislativas, precisa de um assento no Parlamento Europeu, como “do pão para a boca”, para legitimar o seu crescimento e provar que não foi por acaso que alcançou os 50 lugares em S. Bento. 

Quando as oposições e os media amigos das oposições, já se perfilavam para acusar Montenegro de inação — por não resolver em um mês de actividade aquilo que as esquerdas e o PS não tinham resolvido em oito anos –, o primeiro ministro, cumprido o recolhimento “monástico”, tirou da “cartola“ não um mas vários coelhos, num passe de “mágica” que desarmou a assistência , já preparada para a pateada.

(Excertos do texto de Dinis Abreu, OBSR)

Frase (117)

Vivemos um tempo em que é cada vez mais fácil exigir a censura daqueles de quem discordamos. São tempos perigosos, nos quais também os jornalistas estão a entrar.     (António Costa, ECO)

Particularmente preocupante é ver jornalistas, os que vivem profissionalmente da liberdade de expressão, os que dependem da sua efetiva realização para o exercício pleno da sua missão, a pedir censura, a exigir que Aguiar Branco fosse um censor. É um mau sinal, quando as tentativas de limitar a liberdade de expressão não são apenas património do Chega ou de populistas à esquerda e podem vir de onde menos se espera.

Chegados aos 50 anos do 25 de abril, à celebração da liberdade, está o país a discutir a censura e os que mais evocam a revolução são os que defendem que o Presidente da Assembleia da República deveria mandar calar André Ventura por ter feito comentários xenófobos sobre os trabalhadores turcos, deveria exercer o poder do ‘lápis azul’. Hoje, censurava André Ventura, e amanhã?

O que disse o presidente do Chega? “O aeroporto de Istambul foi construído e operacionalizado em cinco anos. O aeroporto de Istambul… Istambul! Não estou a falar de Veneza: Istambul. Ora, os turcos não são propriamente conhecidos por serem o povo mais trabalhador do mundo”. A afirmação, por sinal, é falsa, coisa pouco sublinhada na discussão pública por estes dias: O PIB por hora trabalhada é superior ao português…

Portanto, a afirmação é, em primeiro lugar, falsa. E em segundo, roça a xenofobia quando faz uma caracterização racial ou étnica (como a que fez Marcelo Rebelo de Sousa quando disse que António Costa, por ter ascendência oriental, é lento, nas decisões, presume-se), embora talvez tenha ganho uma relevância excessiva e uma onde de indignação desproporcionada. A afirmação foi feita em pleno Parlamento, e a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, tentou pôr o Presidente da Assembleia em dificuldades. Poderia Ventura dizer aquele disparate, ou outro qualquer? Para José Pedro Aguiar-Branco, pode. E bem. (continuar a ler aqui)

Noites Amadas


 Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua...

Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!

(Auta de Souza)

domingo, 19 de maio de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (116)

Considero indispensável que se discuta se vamos reforçar os exércitos e as indústrias nacionais dos Estados Membros ou se vamos optar por um verdadeiro exército europeu e por uma indústria de guerra da UE.   (Eurico Reis, Sábado)

Isto porque, se tudo continuar como está, temo que essa já periclitante união política possa, a prazo desaparecer por força das suas contradições internas não resolvidas a tempo. (...)

Por exemplo, que cenários se desenham para a Guerra na Ucrânia e também para o genocídio que está a ser praticado na Faixa de Gaza, nomeadamente tendo em conta a imperiosa necessidade de salvaguardar em termos planetários, e na prática e por actos e não unicamente na vã e vazia retórica dos discursos, os Direitos Humanos que constituíam até há pouco o legado diferenciador da União Europeia relativamente às demais áreas geo-políticas do Mundo.(...)

Agora tudo será mais difícil porque o debate político se tornou irracional e, essencialmente por culpa dos partidos de extrema-direita, reaccionários, xenófobos e racistas, alguns claramente fascistas, auto-proclamados nacionalistas, demasiado parecido com uma disputa de taberna - pedindo desculpa às tabernas e aos taberneiros. (...)

Tudo isto quando a discussão dessa questão (e de outras) se está a tornar, cada vez mais, um imperativo de sobrevivência para a União Europeia. (...)

sábado, 18 de maio de 2024

O Amor E A Verdade


"O amor e a verdade estão unidos entre si, como as faces de uma moeda.
É impossível separá-los. São as forças mais abstractas e mais poderosas desse mundo."

(Mahatma Gandhi)

Notícias Ao Fim Da Tarde

Saiba Como Vai Este País

Medina tentou destruir a credibilidade de uma entidade que presta um serviço muito valioso aos portugueses pela fiscalização que faz aos “truques” orçamentais.   (Ricardo Pinheiro Alves, ECO)

Fernando Medina acusou a UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) de ter mentido. Mas quem faltou à verdade foi Medina quando fugiu às questões que lhe foram colocadas no parlamento e tentou desviar a atenção da imprensa para aspectos sem relevância. Mais grave do que isso, Medina tentou destruir a credibilidade de uma entidade que presta um serviço muito valioso aos portugueses pela fiscalização que faz aos “truques” orçamentais.

A Frase (115)

Não podemos viver debaixo de uma permanente autossuspeição, ao sabor das teorias da conspiração, da crescente desconfiança, dos rumores de que tudo resulta de cabalas…  (Rui Moreira, SOL SOL)
 

Por muito que os partidos pareçam indisponíveis para tal e que a classe política seja pouco corporativa, e às vezes autofágica, não tardará, com a acumulação de casos, a haver a tentação de controlar politicamente a Justiça. Aliás, o manifesto subscrito por 50 personalidades, que recomenda a reforma do sistema de Justiça, é sintomático desta reação em cadeia. No atual contexto, os agentes políticos devem compreender que ser escrutinado e investigado são ossos do ofício com que devem conviver.

O Medo Da Mudança ...


As massas humanas mais perigosas
são aqueles em cujas veias foi injetado
o veneno do medo...
do medo da mudança.

(Octavio Paz)


sexta-feira, 17 de maio de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

Um Real Problema

          

A face hipócrita do debate sobre a imigração - A ideia onírica de abrir as portas a imigrantes sem acautelar as condições para os legalizar, acolher, encaminhar e proteger foi um crime contra o país e contra as pessoas.

A discussão sobre a imigração parece uma reacção a estímulos digna do cão de Pavlov. Nada do outro mundo se os estímulos não fossem sempre desgraças, o que transforma as reacções em sobressaltos que beneficiam os que usam a imigração para promover a exclusão e o caos. Depois de uma tragédia como a que matou dois imigrantes e feriu 14 num incêndio em Lisboa, pouco mais há a fazer senão lamentar as vidas perdidas e a condição em que se perderam.    (Manuel Carvalho, Público)

A Frase (114)

Trump faz tudo o que um agente russo é suposto fazer contra a Ucrânia e contra a NATO, apoia sem qualquer reserva o assalto israelita a Gaza, com milhares de mortos e de preferência com muitos mais, e quer deixar a Europa para Putin.   (José Pacheco Pereira, Sábado)

 Há razões geopolíticas que o tornam muito perigoso. Há razões políticas que o tornam muito perigoso. Há razões nacionais (para os EUA) e internacionais, que o tornam muito perigoso. Ou seja, não há nada que lhe diminua a perigosidade antes e depois de eventualmente ser eleito.

O Que É Um Encontro Breve E ...


O que é um encontro
breve e interminável sem um adeus final
um encontro é uma viagem fora do mundo
no mundo que nunca é verdadeiramente real
na fantasia ansiosa das palavras vibrantes
nunca é o que é
entre
o que é e não é
imaginária e vocálica
fora da sintaxe convencional
no interior de uma galáxia do vento
no espaço branco de uma alegria sem termo
no ar das palavras na respiração de uma laranja

(António Ramos Rosa)

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde


Frase (113)

Hoje, em Portugal, ninguém, exceto os partidos de contestação, pode ter uma opinião sem que seja criticado, culpabilizado, desconsiderado e mesmo insultado.     (Bruno Bobone, OBSR)

A democracia que nos foi dada no dia 25 de abril de 1974 e que nos trouxe o que nos era mais importante: o direito à opinião.

Mas não nos foi dada de um dia para o outro, pois, fosse por hábitos de a controlar, fosse por desejos de assegurar um outro poder, nos primeiros tempos da democracia. (...)

Um ano e meio depois, veio um novo tempo de liberdade em que a opinião foi quase livre. (...)
Ao mesmo tempo, a democracia introduziu novas formas de aceder ao poder.
Todos têm acesso, mas só os que ganham as eleições o podem manejar. (...)

Por isso, para ter êxito nos momentos eleitorais, tornou-se essencial garantir que se agrada a uma maioria de eleitores.
E assim se criou o politicamente correto, cuja definição poderá ser a forma de falar sobre tudo sem nunca se afirmar sobre nada.(...)

Ora, a vida não se compadece com esta falta de capacidade de arriscar uma opinião e uma decisão e, por isso, a degradação da sociedade e da sua economia foi sendo continuada e a qualidade da democracia foi sendo desqualificada.
Na confusão sobre a opinião livre e verdadeira, a opinião condicionada para manter o poder, e na falta de poder para dar opinião. (...)

Hoje, em Portugal, ninguém, exceto os partidos de contestação, que vêm nessa crítica um fator de valorização do seu eleitorado, pode ter uma opinião sem que seja criticado, culpabilizado, desconsiderado e mesmo insultado. 

Quando António Guterres se engasgou com o valor do PIB, foi o prelúdio da sátira política em que vivemos hoje.

Com isto matámos o direito à opinião livre e séria, promovemos a opinião forjada e fingida, e destroçámos a democracia.

É contra isto que cada vez mais protesta o povo. Ou lhe devolvemos esse direito à opinião e à verdade, ou seremos levados a fazê-lo, provavelmente com muito menos democracia.