terça-feira, 15 de julho de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (175)

 Trump, vento variável - “Vento variável” é como os meteorologistas designam o vento que muda de direcção frequentemente ou de forma imprevisível. Não é a única, mas é uma boa definição para o modo como se deve olhar para o Presidente norte-americano, que hoje sopra para um lado e amanhã para outro. É incerto e inconstante, mas nunca deixa de soprar e, quando se tem a força que os EUA têm, isso significa que vai derrubar ou mover coisas.

(David Pontes, Público)

Os Meus Conselhos Devem Servir ...


Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha.
É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu;
mas nessa altura já o pensamento lhe pertence.

(Agostinho da Silva)

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (174)

O discurso dominante — seja nos media, nos gabinetes políticos ou nos congressos — contribui, dia após dia, para uma cultura de desistência.  Vivemos tempos em que ser positivo parece ter-se tornado quase subversivo. Em particular no setor da saúde, tornou-se hábito olhar a realidade com uma lente que amplifica o que está mal, negligenciando quase por completo o que funciona. Nos media, nos debates, nas conferências e até nas mais especializadas jornadas técnicas, o foco é sempre o mesmo: os problemas, os erros, as falhas, a exaustão do sistema. As soluções, quando existem, são relegadas para rodapés ou ignoradas sob o argumento de que “não se aplicam à nossa realidade”.      (Andreia Lima, OBSR)

O discurso dominante — seja nos media, nos gabinetes políticos ou nos congressos — contribui, dia após dia, para esta cultura de desistência.
  • É urgente inverter esta lógica. 
  • Ser positivo não é ser ingénuo. É ter a coragem de reconhecer o que está a funcionar, aqui e noutros países, e perguntar com seriedade: o que podemos adaptar à nossa realidade?
  • É rejeitar o discurso do impossível.
  • É olhar para os problemas com sentido de responsabilidade, mas também com foco na solução.
  • É valorizar o que já está a ser feito de forma eficaz — e dar visibilidade a quem inova, a quem tenta, a quem não se resigna.
  • A saúde em Portugal não pode continuar refém do pessimismo nacional. O futuro constrói-se com vontade, com visão e com ação. E talvez o primeiro passo para mudar seja este: voltarmos a acreditar que é possível.
  • E esta normalização da paralisia tem consequências sérias. A crítica constante, sem contrapartida de construção, gera desmotivação, cinismo e a ideia de que melhorar é impossível.(...)

Green God


Trazia consigo a graça
Das fontes quando anoitece.
Era um corpo como um rio
Em sereno desafio
Com as margem quando desce.
Andava como quem passa
Sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
Cresciam troncos dos braços
Quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
O corpo que lhe tremia
Num ritmo que ele sabia
Que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
Porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
Enleado na melodia
De uma flauta que tocava.

 (Eugénio de Andrade, As Mãos e os Frutos)

domingo, 13 de julho de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (173)

Qualquer resultado dos candidatos presenciais será comparado diretamente com os conseguidos pelos partidos que os apoiaram nas últimas legislativas, com a agravante de enfrentarem Henrique Gouveia e Melo, que as sondagens dizem ter vantagem, o que faz com que os partidos que teimem em colocar o seu peso em jogo partam para a contenda com a garantia de um universo mais reduzido.  (Ricardo Santos Ferreira, J Económico)

É uma escolha individual, já que o Presidente da República é o chefe do Estado e o único órgão de soberania unipessoal em Portugal, mas há sempre a tendência para partidarizar o processo, como se fosse uma extensão de legislativas ou autárquicas, funcionando em pacote ou por oposição. Pensar assim acarreta riscos, como agora acontece.

O PS é o partido que sai mais fragilizado. O processo de escolha ou apoio de uma candidatura foi um desastre, ainda no consulado de Pedro Nuno Santos, com avanços e recuos e um desnorte profundo. (...)

Paradoxo Natural


Na luz indecisa que deixa adivinhar
a manhã, a névoa que impregna o ar
desfaz-se quando os dedos de fogo do sol
a limpam, restituindo ao dia
a sua transparência. Mas a mulher que
ocupa o centro da paisagem não
se apercebe da mudança. O seu corpo
pertence à terra, e entrega-se
ao ritmo subterrâneo das raízes, ouvindo
o canto que regula a passagem
das estações. Um desejo de sombra apodera-se
da sua alma; e conta o tempo que falta
para a noite, para se entregar ao silêncio
do mundo, no lento eclipse
dos sentimentos.

(Nuno Júdice)

sábado, 12 de julho de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Realidade Do Socialismo Na Península Ibérica

Há décadas a Península Ibérica era uma referência política no que respeita aos princípios e valores do socialismo democrático.
Havia estadistas, coisa que parece estar em vias de extinção, ou mesmo extintos.

No contexto europeu os nomes socialistas de Filipe González ou José Luís Zapatero, em Espanha, e de Mário Soares em Portugal, representavam o que mais digno existia no conceito internacional socialista. A Península Ibérica era, de certo modo, um farol na sinalização de uma sociedade justa e com preocupações sociais. (...) Depois, os tempos mudaram. 

Hoje a Espanha é um triste exemplo do mais degradante exercício de corrupção e tráfico de influências que um país pode conhecer. Desesperadamente agarrado ao poder, Pedro Sánchez está rodeado de gente pouco recomendável. Santos Cerdán (em prisão preventiva) e José Luís Abalos, os principais suportes de Sánchez no PSOE estão hoje a contas com a Justiça por alegada corrupção e tráfico de influências. São os mesmos que em 2014 foram decisivos na vitória de Sánchez no PSOE e que o conduziriam ao cargo de primeiro-ministro de Espanha em 2018 . Abalos, ex-ministro dos Transportes, terá montado no seio do PSOE uma teia de alegada corrupção e recebimentos indevidos de grandes empresas de construção. (...)

Por cá nas últimas décadas os governos de José Sócrates e António Costa deram alguns contributos para a má imagem que o socialismo tem na Península Ibérica. 

Dois ex-primeiros-ministros portugueses que deixaram o poder por casos de Justiça, ainda por esclarecer. O exercício governamental de Sócrates teve alguns momentos de vitalidade. Sócrates, como primeiro-ministro, deixou a sua marca nalguns aspetos da modernização de Portugal. O Simplex, os avanços no campo ambiental com as energias alternativas, a digitalização com a afirmação internacional do computador Magalhães, o projeto do Parque Escolar com a modernização de tantas e tantas escolas portuguesas foram iniciativas que, definitivamente, têm a assinatura de Sócrates. Mas, depois, a evolução foi o que todos sabemos e o ex-primeiro-ministro está hoje na barra da Justiça por alegada corrupção, tráfico de influências e branqueamento de capitais.  (...)

Convenhamos, pois, que Portugal tem dado uma significativa ajuda na má imagem de uma Península Ibérica que em termos de decência política já conheceu melhores dias. António Costa, foi, igualmente, um ex-primeiro- ministro que se demitiu na sequência da descoberta nas instalações do seu chefe de gabinete de 75 mil euros em dinheiro vivo que, até hoje, não se sabe a proveniência. Um assunto que está, ainda, entregue à Justiça e sobre o qual não tem havido desenvolvimentos nos últimos tempos. (...)

Sócrates e Costa são, portanto, os mais diretos responsáveis pela situação em que se encontra hoje o PS, na sua condição de terceira força partidária no leque parlamentar português.

José Luís Carneiro, atual secretário-geral, não tem tarefa fácil para devolver ao Partido Socialista a força e vitalidade que os socialistas precisam para ambicionarem, um dia, regressarem ao poder.(...)

 Até agora José Luís Carneiro tem primado pela hesitação. Tem falado mais para dentro do partido do que para o país. O seu exercício de oposição tem sido frágil, sem propostas que tenham força para retirar protagonismo ao Chega. O adiamento ao apoio à candidatura de António José Seguro, por receio da ala Costista, só contribui para que José Luís Carneiro possa estar a construir o seu caminho para um líder de transição. Onde devia existir determinação, há fragilidade. Onde devia verificar-se decisão, há sistemáticos adiamentos. José Luís Carneiro não está a comportar-se como um líder, mas sim como um gestor titubeante de duas fações que coexistem no PS. Uma centrista e moderada e uma segunda situada mais à esquerda. (...)

Esta é, pois, a realidade do socialismo na Península Ibérica. Se em Espanha Pedro Sánchez for afastado, politicamente, o que não deverá demorar muito tempo, restará um PS português fragilizado, com uma longínqua possibilidade de ascender ao poder. Convenhamos que o socialismo democrático já conheceu melhores dias e em termos de iberismo, se não existir uma alteração profunda na atual lógica política do PSOE e do PS, lá teremos a Península Ibérica transformada numa espécie de jangada de pedra socialista.            (António Capinha, 'A Jangada de Pedra', DN)

A Frase (172)

 Quando o limite de processamento de informação é atingido (estado em que grande parte da população ocidental vive), termina a capacidade para absorver em modo crítico, criativo ou construtivo(Nuno Leite, 'A fronteira ténue entre a sensibilidade e a ignorância', OBSR)

Esta constante aceleração, promulgada pela tecnologia, levou as empresas, os governos, os media, as pessoas e a sociedade em geral a avançar. E este ato de prosseguir continuamente não é, de todo, um sinónimo de progresso multidimensional. A história já demonstrou em diversas ocasiões a importância de pensar para agir. Descartes levou esse desígnio ao limite, com a sua famosa premissa Penso Logo Existo. No limite, de acordo com o filósofo francês, haverá hoje uma parte muito significativa de pessoas que pura e simplesmente não existem, apenas reagem.  (...)

Nesta era do “multiconteúdo”, real e fake, refletir tornou-se um hábito quase de luxo e, de certa forma, desconfortável. No lado oposto, parar de pensar com recurso ao consumo de conteúdo “leve e familiar” provoca relaxamento e uma espécie de apatia. (...)

Quando o limite é atingido (estado em que grande parte da população ocidental vive), termina a capacidade para absorver em modo crítico, criativo ou construtivo. Este é o “ponto G” para a total permeabilidade à desinformação e hipersensibilidade; uma espécie de narrativa dicotómica onde existe apenas o certo ou errado, o bom ou mau, o povo ou a elite.

Num mundo onde os conteúdos, a informação e, sobretudo, a desinformação são conduzidas por algoritmos de segmentação, através de um processo no qual cada vez menos existe escolha livre ou consciente, o julgamento dicotómico supera largamente qualquer questão de foro sensível.

Vertigem


 “O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado
por uma balaustra sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. 
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, 
é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.”
  
(Milan Kundera, livro A, Insustentável Leveza do Ser)

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (171)

Só uma imigração ordenada e explicitamente dependente do respeito às instituições e valores das sociedades ocidentais pode salvaguardar o modo de vida ocidental para benefício de todos, os que estão e os que chegam. Sim, precisamos dos imigrantes – tanto como eles precisam de quem, no Ocidente, acredita nos princípios que o constituem.   
(Rui Ramos, OBSR)

Não se pode falar da imigração sem que um oligarca levante a vozinha beata para nos lembrar que precisamos dos imigrantes. Precisamos? Precisamos. Precisamos de cuidadoras, de empregadas domésticas e de estafetas e condutores das plataformas de transporte e distribuição. (...)

Mas convém lembrar uma coisa aos oligarcas: é que os imigrantes também precisam de nós. Precisam da economia de mercado, do Estado social e do Estado de direito que aqui desenvolvemos e que não se desenvolveram na maioria dos países de onde os imigrantes vêm. Precisam, uma vez aqui, das nossas escolas, dos nossos hospitais, da nossa polícia, das nossas empresas. Precisam, portanto, que nós consigamos preservar o que tornou as nossas sociedades atractivas como destino de migração.(...)É isso que, acima de tudo, está em causa perante as migrações súbitas, descontroladas e maciças a que, por decisão dos seus governantes, o Ocidente se sujeitou na última década. Os riscos são muitos. (...)

A integração, porém, não é apenas uma questão de logística, de haver empregos, casas, escolas e hospitais. É também uma questão política, de haver vontade de iniciar os migrantes no respeito às nossas instituições, valores e costumes.

A imigração, se descontrolada e sem integração, pode ser apenas um meio de importar para as sociedades ocidentais os sarilhos que atormentam as sociedades de origem dos imigrantes. Imagino a desagradável surpresa que muitos somalis devem ter tido na Suécia ao descobrir que os gangues armados de Mogadíscio tinham aproveitado o caos migratório para se instalarem em Estocolmo. Quem fugiu da Somália não foi certamente para a reencontrar na Escandinávia.

Mais Alto ...

Mais alto, sim! mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quem

O mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!

Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível!
Turris Ebúrnea erguida nos espaços,
A rutilante luz dum impossível!

Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
O mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!

(Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde