Moradores e comerciantes desesperam, há anos, com o tráfico de droga na Bica, Largo do Calhariz ou Miradouro de Santa Catarina. Videovigilância é a esperança, mas não tem data para sair do papel.
Droga. Violência. Assaltos. São os temas do dia. Todos os dias. No Largo do Calhariz, na Bica ou em Santa Catarina. Quem ali vive, idosos na sua maioria, sabe que a partir do meio-dia não é seguro andar na rua. É o que faz Catarina Teixeira. “Não arrisco a vida”, diz. Mudou a rotina desde que um vizinho, também ele idoso, foi agredido violentamente por um traficante, em plena do luz do dia, enquanto passeava com a neta, por se mostrar indignado com tráfico de droga mesmo à porta da sua casa. A história deixou marcas entre os moradores. “Só vou ao supermercado ou aos correios quando os drogados estão a dormir. Para não ter problemas. Mas faz-me pena passar por ali e ver a rua toda suja”, conta.
“As pessoas vivem desesperadas”, confirma a presidente da junta de freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, a quem residentes e comerciantes vão expondo o ambiente de insegurança e sujidade que se vive na zona.
A Câmara Municipal de Lisboa (CML), comprometeu-se a assumir o valor da instalação de um sistema de videovigilância semelhante ao do Bairro Alto.
A garantia foi dada pelo próprio presidente da CML, Fernando Medina, numa reunião com moradores e residentes da junta de freguesia da Misericórdia “Só falta o ok do Ministério da Administração Interna e da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD)“, assumiu o autarca, perante uma sala cheia.
Mas, “Não há data para a instalação das câmaras.
É de lamentar, mas não lhe consigo dar essa informação”, assume a presidente da junta.
A Comissão de Proteção de Dados também não tem conhecimento.
Questionada pelo Observador sobre o tema, a CNPD admite “não ter qualquer pedido de parecer do Ministério da Administração Interna quanto a videovigilância nessa zona, pelo que nada está pendente”, acrescentando, ainda, que “quem pode autorizar as câmaras de vigilância na via pública, ao abrigo da Lei 1/2005, é o Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, após parecer da CNPD”.
Em resposta às questões colocadas pelo Observador, o Ministério da Administração Interna (MAI) apenas confirma que a zona do Largo do Calhariz está contemplada no “processo de instalação de sistema de videovigilância a instalar na cidade de Lisboa” mas não avança com datas ou sequer prazos.
E enquanto o dossier da videovigilância na zona da Misericórdia é analisado em gabinetes ministeriais e passa de secretária em secretária, no terreno, as forças de segurança da PSP e da Polícia Municipal trabalham sem essa mais-valia.
Presidente da direção da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, lamenta a falta de meios dos agentes de segurança, e reconhece que “o método de policiamento que temos continua a ser o de há dez anos”. O que não faz sentido quando se está perante uma “criminalidade com este grau de organização” e que exige processos de investigação criminal.
Fonte: Maria Barbosa, OBSR
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