Portugal aparece como um dos países mais infelizes da OCDE. Mais infelizes ainda, apenas a Turquia e a Grécia.
Porque serão os portugueses tão infelizes? Será resultado da perceção de um elevado nível de corrupção? Crescimento económico débil? Ausência de sentido de destino coletivo? Não há uma elite dedicada ao bem comum? Para além de políticas erradas inimigas do crescimento, haverá outros fatores mais profundos do foro psicossocial?
Os portugueses oscilam entre a glorificação e o desamor, entre o exaltamento e o escárnio de si mesmos e do seu país. Querem amar, mas não encontram permanente motivação para uma entrega que se prevê venha a ser recompensadora – material ou imaterialmente falando. Não há previsibilidade, nem estabilidade. Planeamento estratégico a todos os níveis é difícil ou impossível. O futuro, seja ele qual for, há-de aparecer, não se constrói.
Os portugueses não sabem apreciar o melhor que têm: eles mesmos. Sofrem de insouciance e de autoflagelação crónicos. Não sabem, não podem ou não querem resolver atempada e eficazmente as coisas, mesmo as importantes. Enredam-se a discutir coisas triviais durante meses. Desistem e partem perante o atavismo e a paralisia coletiva que resulta do conflito entre inúmeros interesses mesquinhos. (...)
O ensimesmamento português, na opinião de José Rui Teixeira (2020), simbolicamente, nimba a sua vocação atlântica de uma vertigem suicidária: um povo tão afetivamente apegado às suas raízes, às suas origens, projeta-se numa diáspora que ainda hoje reúne quase um terço dos portugueses.
Esta singularidade, segundo Teixeira, foi descrita por António José Saraiva (1917-1993) como um “novelo afetivo” que caracteriza a “personalidade portuguesa”, que implica, entre outras particularidades idiossincráticas, um sentimento de insularidade, o messianismo e a saudade, e que aparece “a observadores estrangeiros como desnorteante e paradoxal”.
A perplexidade estrangeira sobre Portugal persiste hoje mesmo, confirmando Saraiva: “É um puzzle, é um enigma, porque é que Portugal não está a crescer mais”, disse Sarah Carlson, vice-presidente de Moody’s e principal responsável pelo acompanhamento do rating de Portugal, há poucos dias (13 de fevereiro de 2020).
Enquanto não for resolvido o enigma, Portugal será infeliz.
(excertos do texto de Nuno Cintra Torres, JE )
Sem comentários:
Enviar um comentário