quinta-feira, 16 de maio de 2024

Frase (113)

Hoje, em Portugal, ninguém, exceto os partidos de contestação, pode ter uma opinião sem que seja criticado, culpabilizado, desconsiderado e mesmo insultado.     (Bruno Bobone, OBSR)

A democracia que nos foi dada no dia 25 de abril de 1974 e que nos trouxe o que nos era mais importante: o direito à opinião.

Mas não nos foi dada de um dia para o outro, pois, fosse por hábitos de a controlar, fosse por desejos de assegurar um outro poder, nos primeiros tempos da democracia. (...)

Um ano e meio depois, veio um novo tempo de liberdade em que a opinião foi quase livre. (...)
Ao mesmo tempo, a democracia introduziu novas formas de aceder ao poder.
Todos têm acesso, mas só os que ganham as eleições o podem manejar. (...)

Por isso, para ter êxito nos momentos eleitorais, tornou-se essencial garantir que se agrada a uma maioria de eleitores.
E assim se criou o politicamente correto, cuja definição poderá ser a forma de falar sobre tudo sem nunca se afirmar sobre nada.(...)

Ora, a vida não se compadece com esta falta de capacidade de arriscar uma opinião e uma decisão e, por isso, a degradação da sociedade e da sua economia foi sendo continuada e a qualidade da democracia foi sendo desqualificada.
Na confusão sobre a opinião livre e verdadeira, a opinião condicionada para manter o poder, e na falta de poder para dar opinião. (...)

Hoje, em Portugal, ninguém, exceto os partidos de contestação, que vêm nessa crítica um fator de valorização do seu eleitorado, pode ter uma opinião sem que seja criticado, culpabilizado, desconsiderado e mesmo insultado. 

Quando António Guterres se engasgou com o valor do PIB, foi o prelúdio da sátira política em que vivemos hoje.

Com isto matámos o direito à opinião livre e séria, promovemos a opinião forjada e fingida, e destroçámos a democracia.

É contra isto que cada vez mais protesta o povo. Ou lhe devolvemos esse direito à opinião e à verdade, ou seremos levados a fazê-lo, provavelmente com muito menos democracia.

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