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sábado, 12 de setembro de 2015

O Público E Os Comentadores Gostam De Excitação E De Alarido, Como Os Pacóvios Gostam De Ver Desastres

Não se percebe por que razão o jornalismo português (profissional ou amador) resolveu achar que António Costa tinha ganho a Passos Coelho.
A ideia parece ser que um debate é uma espécie de altercação de taberna em que ganha quem der mais murros no adversário e se mostrar, de maneira geral, mais malcriado e belicoso. Se este modelo se aplica a uma discussão sobre o Estado e a vida dos portugueses nos próximos cinco anos, temos, de facto, razão para desesperar. António Costa gritou e esbracejou mais do que Passos Coelho. E Passos Coelho foi falando com uma certa serenidade e não permitiu que, da parte dele, a conversa degenerasse num chinfrim com o primeiro-ministro. Mas, dizem os peritos, perdeu. O público e os comentadores gostam de excitação e de alarido, como os pacóvios gostam de ver desastres.

Vasco Pulido Valente, Público   

As Verdades Essenciais Do Homem Lembram-me às Vezes Números De Um Grande Programa ...

As chamadas verdades essenciais do homem lembram-me às vezes números de um grande programa que os tambores anunciam pelas ruas fora que vai ser deslumbrante e cumprido à risca, e que os pobres actores, à noite, realizam sabe Deus como, a passar em claro cenas inteiras.

A afirmar e a prometer, nenhum bicho leva a palma ao colega antropóide. Mas é vê-lo em plena representação, ou depois dela, no camarim, nu e lavado. Que miséria!

A justiça imanente que pregou e demonstrou, acrescenta-lhe, por segurança, o ergástulo e o carrasco; ao pecado, junta-lhe a confissão; à predestinação, o livre arbítrio; à morte, a ressurreição. Lembra-me sempre a velha história dos castelos de heroísmo e fidelidade, com a portinha da traição disfarçada nas muralhas...

Miguel Torga