"Basta, senhor Presidente da República. Basta, senhor primeiro-ministro e restantes membros do Governo. Basta, senhores deputados, oficiais e praças das Forças Armadas e policiais, juízes e outros responsáveis pela Justiça, autarcas de Portugal inteiro, bispos e padres e responsáveis de outras religiões, todos os cidadãos deste País. Basta, de vez, com tantos fogos a queimar a nossa Nação".
Bispo Anacleto Oliveira, CM
E, D. Anacleto Oliveira diz mais:"É urgente a mobilização de todas as pessoas, sem exceção, e a começar pelos seus maiores responsáveis: O senhor Presidente da República que, além da posição única que ocupa, tem um jeito peculiar e um prestígio suficientemente reconhecido, até para liderar a mobilização de toda a Nação nesta causa nacional. Faça-o, senhor Presidente. Por favor." O apelo, perante milhares de pessoas após a missa em honra de Nossa Senhora da Agonia, foi feito ontem pelo bispo de Viana do Castelo. D. Anacleto Oliveira disse que esta é uma "causa nacional" que deve envolver "todos os governantes, nacionais e locais, com os meios que só eles podem administrar". "Usem-nos bem, como servidores, não de si próprios, mas do País. Por favor", desafiou. "Nada há de mais poderoso e eficaz que um povo inteiro unido pela mesma causa", frisou, defendendo que "chegou a hora do País gritar bem alto: basta de fogos florestais".(continuar a ler)
Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor.
Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria.
A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros.
Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras.
E poderia ser de outro modo? Num tempo em que todo o pensamento dogmático é mais do que suspeito, em que todas as morais se esbarrondam por alheias à «sabedoria» do corpo, em que o privilégio de uns poucos é utilizado implacavelmente para transformar o indivíduo em «cadáver adiado que procria», como poderia a arte deixar de reflectir uma tal situação, se cada palavra, cada ritmo, cada cor, onde espírito e sangue ardem no mesmo fogo, estão arraigados no próprio cerne da vida?
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição, morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem!
Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral, que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto reduzir o homem a um fragmento do homem.
Eugénio de Andrade