É uma ilusão considerar que há políticas públicas em Portugal com poder para contrariar a mudança que temos no horizonte, desencadeadas pelas exigências na Defesa e pela guerra comercial. (Helena Garrido,OBSR)
O debate de todos contra todos com representação parlamentar, na RTP como nas rádios, acabou por ser mais rico do que os frente-a-frente. Mas deixou à mesma o sabor amargo de estarmos a infantilizar eleitores, com todos os protagonistas a evitarem os temas que mais impacto vão ter nas nossas vidas a breve prazo. O investimento em Defesa e a guerra comercial aberta por Donald Trump reúnem condições para alterar estruturalmente as sociedades europeias no pilar fundamental que é o Estado Social.O tema está a ser evitado, mas mais cedo ou mais tarde vai bater-nos à porta. Parece óbvio que não vai ser possível manter um Estado Social tão generoso quanto era quando a potência americana desempenhava uma das funções de soberania que cabe aos Estados, a Defesa. Vai haver escolhas a fazer que não vão ser fáceis. Esperemos que, pelo menos, no calor da campanha eleitoral, AD e PS não caiam na tentação de fazer promessas manifestamente impossíveis de cumprir, uma vez que nem aquilo que o Estado Social já nos dá poderemos ter capacidade de manter.
Podemos ter uma surpresa muito desagradável quando a economia entrar em crise – porque é mesmo uma questão de quando, porque acontecerá.(...)
Luís Montenegro seguiu o mesmo caminho. Se repararmos bem, segmentou – como continua a fazê-lo em campanha – o país em grupos de votantes e foi adoptando as medidas que lhes agradam ou preocupam. A imigração, que há um ano era um tabu, é um dos exemplos que não envolve dinheiro, mas que vai meticulosamente ao eleitorado do Chega, esvaziando uma das suas bandeiras. Em onze meses Luís Montenegro geriu o ciclo para ir a eleições e o que é espantoso é que não esteja mais distanciado do PS. (...)
Os resultados eleitorais vão dizer-nos quanto ainda nos vai poder custar, caso o dia 18 de Maio produza o mesmo equilíbrio de forças.
Nos tempos desafiantes que vivemos, o que nos está a acontecer, como o que nos aconteceu nos últimos dez anos, em nada contribui para o desenvolvimento do país. Ninguém ganha eleições com a verdade, costuma dizer-se. O problema é que, neste momento, a não verdade, a ilusão que nos espera uma prosperidade fácil com um Estado generoso, pode ser mais cara.

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