Se no passado as teorias do “Grande Líder” assumiam que liderar implicava ter “controlo” sobre todas as respostas e conhecimentos, hoje a incerteza própria de um ecossistema laboral caracterizado por revoluções tecnológicas, modelos híbridos de trabalho e a integração de um conjunto de valores culturais e de sociedade em constante evolução, requerem que o processo de liderança reflita um equilíbrio entre a lógica e a emoção.
É com base nesta premissa que surge o conceito de Liderança Empática, alicerçada na Inteligência Emocional (IE), que convida os líderes a “ouvir” não apenas os dados e indicadores financeiros, mas também as emoções e expectativas humanas.A ligação entre a estratégia e a componente humana coloca as relações e conexões pessoais no centro do processo de liderança, criando a expetativa de que os líderes de hoje sejam mentores que agem com integridade e paixão para inspirar os outros a alcançar resultados sem comprometer a viabilidade e saúde mental das suas equipas.
Posto isto, deverão os líderes cultivar uma maior IE? Sem dúvida, mas não de forma isolada. A IE deve ser parte de um conjunto mais amplo de competências a que os líderes devem almejar num processo de liderança inserida num pensamento sistémico.
Ao reconhecer as organizações de hoje como sistemas complexos, teorias como a Liderança na Complexidade assumem essa liderança como um processo dinâmico que emerge das interações que vão ocorrendo dentro do sistema. Liderar neste contexto exige estabelecer uma visão e uma adaptabilidade que implicam, muitas vezes, abdicar do controlo.
Neste âmbito, a empatia torna-se uma ferramenta essencial, permitindo aos líderes captar tensões, fomentar a colaboração e responder a padrões evolutivos, ao invés de lhes resistirem.
Esta teoria realça ainda a importância do equilíbrio entre intenção estratégica e adaptação emergente, promovendo uma liderança, tanto distribuída quanto contextual.
Tal equilíbrio deve também ser cultivado a nível individual, através de uma liderança equilibradamente empática, pois um excesso de empatia por parte do líder pode levar ao seu burnout ou a momentos de indecisão. A chave da liderança passa, assim, por saber interpretar o contexto e identificar quando devemos liderar pela emoção, pela racionalidade, ou por uma integração de ambas.
Num mundo onde os sistemas são imprevisíveis e as pessoas são o verdadeiro motor das organizações, a humanização da liderança é a única via sustentável. Os líderes do futuro não terão de ser apenas bons estrategas, mas também grandes intérpretes da condição humana e das relações sistémicas que dela advêm.
Paulo Leitão,
Diretor de Recrutamento e Seleção Especializado do Clan. Este artigo foi publicado na edição nº 30 da revista Líder

Sem comentários:
Enviar um comentário