sábado, 2 de março de 2019

Confiança Zero

As próximas eleições para o Parlamento Europeu decorrem sob o duplo signo de uma crise profunda na União Europeia, de que o Brexit e a ascensão dos populismos é apenas a ponta do "iceberg". 

No caso de Portugal, que este ano acolhe três eleições - as europeias, as regionais dos Açores e Madeira e as legislativas -, o ciclo eleitoral decorre perante um descrédito cada vez mais acentuado no funcionamento do sistema político. As eleições para o Parlamento Europeu estão marcadas para 26 de Maio e neste momento ninguém pode garantir se o Reino Unido nessa altura ainda estará dentro da União ou se o Brexit já se terá então concretizado. Melhor dizendo, ninguém neste momento pode garantir que não haverá adiamento, que não haja segundo referendo, que a Europa não engula uma tonelada de sapos e não volte atrás em tudo o que jurou sobre o Brexit. 

Enfim, o panorama geral é o de que nada está certo e que mais uma vez os políticos meteram os pés pelas mãos ao induzirem os cidadãos em erro e ao não conseguirem encontrar uma solução para a situação que eles próprios fabricaram. Na realidade, o perigoso "poker" jogado por Cameron, quando convocou o referendo sobre o Brexit, transformou-se num pesadelo que assusta o sistema financeiro, cria graves problemas às economias do Reino Unido e de uma série de países da Europa e voltou a colocar na ordem do dia a questão da Irlanda - com a hipótese, até há pouco impensável - de ressurgir uma nova fronteira de arame farpado entre o norte e o sul da ilha, com todo o provável retomar e agudizar de conflitos que isso trará. 

Mas, passando para o caso português, uma sondagem, realizada a pedido da União Europeia, conhecida esta semana, indica que apenas 17% dos portugueses confiam nos partidos, somente 37% no Parlamento e só 43% manifestam confiança no Governo. Trocado por miúdos, a maioria não acredita em nada disto. É um balanço terrível do funcionamento do sistema, que cada vez se parece mais com um barco desgovernado que partiu amarras e saiu desarvorado sem destino. 

Manuel Falcão, J Negócios

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