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terça-feira, 8 de março de 2016

"Alentejo Prometido" : Opinião

João Miguel Tavares
Muitos dos parolos que debitaram parolices sobre Alentejo Prometido nunca leram o livro e limitaram-se a visionar 60 segundos do programa da SIC Radical Irritações. Mas outros menos parolos padecem dos complexos 1 a 3, e esses são muito mais perniciosos do que os tipos que simplesmente sofrem de HRS. O livro do Henrique Raposo é claramente devedor do estilo que Maria Filomena Mónica adoptou em numerosas obras, e que muita falta faz nesta terra: um cruzamento de biografia com história, antropologia e sociologia, que não tem a ambição de produzir textos académicos, mas que contém uma inventividade, um arrojo interpretativo e uma dimensão de provocação intelectual que são extremamente estimulantes para quem gosta de pensar além da sebenta. Contêm o risco do erro, mas não o bocejo do papagueio. (ler artigo completo)  

A Família ...


Três meninos e duas meninas, 
sendo uma ainda de colo. 
A cozinheira preta, a copeira mulata, 
o papagaio, o gato, o cachorro, 
as galinhas gordas no palmo de horta 
e a mulher que trata de tudo. 

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, 
o cigarro, o trabalho, a reza, 
a goiabada na sobremesa de domingo, 
o palito nos dentes contentes, 
o gramofone rouco toda a noite 
e a mulher que trata de tudo. 

O agiota, o leiteiro, o turco, 
o médico uma vez por mês, 
o bilhete todas as semanas 
branco! mas a esperança sempre verde. 
A mulher que trata de tudo 
e a felicidade. 

Carlos Drummond de Andrade