sábado, 20 de abril de 2024

Notícias Ao Fim da Tarde

A Frase ( 91)

Depois de fundada a democracia, há quase cinquenta anos, muito melhorou e quase tudo mudou. Mas a Justiça talvez não. Ou antes, a Justiça não soube, não quis ou não foi capaz de se adaptar aos novos tempos, aos novos direitos e aos novos deveres. Ou os governantes e o legislador não souberam tratar da Justiça. Seria bom que, neste tempo de balanços, não se esqueça a Justiça. Ainda por cima, com tantas anomalias diante de nós!         (António Barreto, Jacarandá)

 Há pouco tempo, a dissolução do Parlamento, a convocação de eleições e a demissão do Primeiro ministro foram actos políticos da responsabilidade do Presidente da República, que deles tem de prestar contas. Politicamente. (...) 

Mas tudo começou com um gesto, que muitos consideram errado e excêntrico, da Procuradora Geral da República. É judicialmente que ela tem de esclarecer e de prestar contas, algo que não tem feito. Mas deveria fazer. Não basta anunciar a sua não renovação de mandato. (...)

De todas as suas decisões, os magistrados deveriam esclarecer, argumentar e prestar contas. Mas não o fazem. Julgam ser seu direito não o fazer. Consideram que as sentenças e os acórdãos bastam. O que não é verdade. (...)

casos escandalosos de demora, de morosidade deliberada, de lutas burocráticas e de gestos despóticos prejudicando ora arguidos, ora vítimas, ora autores. (...)

O que correu mal com a Justiça portuguesa? Na verdade, nada, actualmente, parece satisfatório. Sabemos que a justiça se adaptou mal às grandes mudanças das últimas décadas. (ler texto completo)

Almas Gémeas

 


As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar.

A alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indecifráveis da nossa existência. Não muda, não se mostra, não se dá a conhecer. O coração ama. Mas é na alma que o amor mora. Todos os amores. Toda a vida.
A alma deixa o coração à solta, como tonto que ele é, e despreocupa-se e desprende-se do corpo, porque tem mais que fazer. E o que faz a alma? Mandar escondidamente na parte da nossa vida que não tem expressão material ou física. Está mal dito, mas está certo, porque estas coisas não se podem sequer dizer.

A alma é de tal maneira que é aquilo, exactamente, de que não se pode falar.
A não ser que se encontre uma alma gémea. Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção.

Uma alma gémea faz curto-circuito com os fusíveis corpo/coração/razão. Não é o «quê» — é o «porquê». O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o «não ser preciso falar» - é outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra.

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença.

(Miguel Esteves Cardoso,  'Explicações de Poruguês')