sábado, 24 de fevereiro de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

Saiba Como Vai Este País (Debates)

É visível e de lamentar: com raríssimas excepções, os autores dos comentários e das análises das duas ou três dezenas de debates eram aficionados. Conclusão: quem designa o “vencedor” é quem escolhe os comentadores. (...)

As perguntas mais frequentes fazem sorrir qualquer pessoa. Em vez de perguntar “o que faz se ganhar?”, pergunta-se “o que faz se perder?”. Realmente importante é o vencedor do debate, não o vencedor das eleições. (...)

Qual deve ser a política do Estado português relativamente a esses conflitos? Como se deve preparar Portugal para eventuais alterações da ordem internacional e da NATO em especial? Pode-se esperar sentado pelas respostas: não, nada, nunca! Importante é saber se, sem maioria, apoia os governos dos adversários.( ...)

Esperava-se, em território conhecido, que todos estivessem interessados no que o vencedor vai fazer. Por exemplo, se vencer as eleições, como vai agir para salvar o SNS? Mantém uma política dita de “contas certas”?  (...)

A defesa e a segurança, sempre vitais, mas agora, de modo brutal, essenciais, estão ausentes de tal modo que se fica mesmo com a impressão de que não sabem o que pensar nem imaginam o que devem fazer.(...)

Nas questões internas, para além da habitual distribuição de subsídios e descontos, há matéria urgente. Por exemplo, a política de imigração e o controlo das populações a viver ilegalmente. Ou ainda, os prazos da justiça e o desempenho dos tribunais cada vez mais deficiente. (...)

Fazem campanha eleitoral não para tornar público o que pensam, mas sim para agradar quem os ouve, dar a impressão de que farão o que se lhes diz, acatar quem lhes fala e dar tudo o que pedem.(...)

Portugal tem contribuído galhardamente para a transformação do debate político em luta livre sem conteúdo político. Só com adjectivos e sem discussão relevante. Elevação e respeito pelo eleitorado são géneros raros na caixa de ferramentas dos candidatos. É só minas e armadilhas.

(António Barreto, Público, via Jacarandá)

Esta É A Frase (43)

Apropósito dos paupérrimos debates desta campanha e que os canais de televisão venderam como produto acabado da indigência a que chegámos, vale a pena lembrar um livrinho, hoje esquecido, e que a Gradiva publicou no já longínquo ano de 1995 (quando a geração dos actuais políticos - a minha, diga-se - andaria já nas respectivas jotas a fazer pela vida, sendo que alguns deles, em 95, nem dez anos teriam…). O livrinho é este:

 A Televisão: Um Perigo para a Democracia, de Karl Popper. “Ladra do tempo, criada infiel”, eis uma das muitas imagens a que o filósofo recorre para descrever a “Medusa do nosso tempo”, imagem de Vladimir Porche, que, em 1955, já adivinhava os nefastos efeitos da caixa mágica sobre a nova humanidade - a “humanidade sentada”.  (António Carlos Cortez, DN)

(...) Num certo sector do centro-esquerda há quem pense que Pedro Nuno é o homem da “ação” e da decisão. Ricardo Araújo Pereira, caricaturando-o, viu bem o modo como, consciente ou inconscientemente, este, como outros políticos de agora, pensam a política em função do onde, quando e como pode a imagem vender mais. Com que gola-alta se pode vencer as gravatas de seda. É, de facto, a televisão que, “trabalhando conteúdos”, manipula e influencia o voto popular. (...)

[A] obediência cega à televisão impede que os responsáveis políticos possam ser, de facto, autênticos. E impede, na verdade, que o exercício da política resolva os problemas concretos das pessoas. A minha geração de políticos, na verdade, repete até ao enjoo lugares-comuns. Procura assegurar votos fazendo demagogia. 

De facto, sem qualquer poder retórico, sem conhecerem o país real, frequentando há tantos anos os corredores dos partidos e, depois, as salas e câmaras e corredores do Poder, não falam para nós, não estão a par do que vive o país real. Há muito que gizaram, em linha recta, a sua vida: das jotas para a universidade, da universidade para a TV, da TV para o poder. Popper tinha razão: na era da “humanidade sentada”, é a política-publicidade que vale e só vence o que vende. É pena que assim seja: a Argentina e o Brasil estão já aqui.

Subia A Lua, Leve ...

 
Um luar fluido e veludoso como um bálsamo
Ungia a noite voluptuosa e ardente.
A sua luz era tão branca que tornava o céu diáfano...
Subia a lua leve como o pensamento.
Eu dialogava com o silêncio... Uma toada rústica
De flautas e violões transportou-me à saudade.
E, abstrato de mim mesmo, eu te bendisse, ó música,
Que da tristeza de pensar me libertavas!

(Da Costa e Silva)