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sexta-feira, 17 de março de 2017

Notícias Soltas

A Propósito Dos Debates Das Comissões Parlamentares

A transmissão directa dos debates (...) em particular, das comissões parlamentares de inquérito tornou-se, ela própria, um instrumento favorável ao acirrar das tensões e ao extremar de posições. O foco de qualquer discussão deixa de ser o tema em si mesmo para passar a ser o floreado circense destinado a impressionar e a mobilizar emocionalmente a plateia, envolvendo-a no processo e levando-a a reagir por instinto primário e com isso condicionar o adversário. Agitando as emoções e encandeando com elas a razão, estimula-se inevitavelmente a belicosidade e a radicalização de posições, favorecendo as dicotomias do "nós contra eles", e com isso se vai esfiapando a coesão indispensável à estabilidade de que depende a boa ordem e o bem-estar sociais. Não deixa de ser paradoxal, mas não surpreendente, que a transparência no funcionamento da vida política, usada como argumento justificativo de uma tal evolução, acabe por produzir resultados contrários àqueles que visa alcançar. Para já não falar da contradição maior - mas que não cabe desenvolver aqui hoje - de que a essa maior transparência processual acabe por corresponder muitas vezes a persistente obscuridade com que se insiste em proteger conteúdos essenciais à necessária responsabilização política.

Vitor Bento, DN

Não Quero O Presente, Quero A Realidade


Vive, dizes, no presente, 
Vive só no presente. 

Mas eu não quero o presente, quero a realidade; 
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede. 

O que é o presente? 
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro. 
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem. 
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente. 

Não quero incluir o tempo no meu esquema. 
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas 
                          como cousas. 

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes. 

Eu nem por reais as devia tratar. 
Eu não as devia tratar por nada. 

Eu devia vê-las, apenas vê-las; 
Vê-las até não poder pensar nelas, 
Vê-las sem tempo, nem espaço, 
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê. 
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma. 


Alberto Caeiro