segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (6)

Continua a coreografia emocional entre o Governo e a Presidência. Para o Governo a “cooperação estratégica” é uma inspiração para os portugueses. Para o Presidente a “cooperação estratégica” é uma desilusão para os portugueses. Para os portugueses o Governo é uma preocupação e o Presidente parece ter iniciado a última temporada do mais longo adeus da República.    (Carlos Marques de Almeida, OBSR)

O Governo pensa que não precisa politicamente do Presidente. O Presidente está convicto de que precisa politicamente do Governo. Esta peculiar inversão institucional e democrática é uma originalidade de uma política em circuito fechado e sem vestígio de imaginação. O Governo centra-se na sua sobrevivência política e qualquer prazo de validade do Executivo expira depois do mandato do Presidente. O Presidente centra-se na herança política e sabe que a sua memória futura depende em muito da performance deste Governo. Portugal tem hoje um Governo soberbo na sua impotência e um Presidente superlativo na sua irrelevância. Como pode um país prosperar com a impotência executiva e com a irrelevância presidencial?

Chove. Há Silêncio

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

(Fernando Pessoa)