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segunda-feira, 27 de maio de 2019
Um País Mais Poucochinho
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| J Cotrim Figueiredo, ECO |
Uma pessoa vê, ouve e lê as análises aos resultados das europeias e chega rapidamente à conclusão de que percebe poucochinho de política e, mesmo, de aritmética. Aqui deixo uma série de conclusões supostamente indiscutíveis que ontem ouvi e que hoje fazem manchete.
A abstenção subiu. Não subiu, não. Votaram mais 30.000 pessoas do que em 2014. Se o número de inscritos não tivesse sido estupidamente inflacionado pelo recenseamento automático dos inscritos nos consulados, a abstenção teria sido de 65,7%, ou seja, 0,4% menos má que a de 2014. E alguém ainda me há-de explicar como é que um país com 10,3 milhões de habitantes, consegue ter mais de 9,2 milhões de eleitores residentes com direito de voto Não estou a dizer que não haja problema de abstenção, apenas que o problema vem de trás e não piorou.
A abstenção subiu. Não subiu, não. Votaram mais 30.000 pessoas do que em 2014. Se o número de inscritos não tivesse sido estupidamente inflacionado pelo recenseamento automático dos inscritos nos consulados, a abstenção teria sido de 65,7%, ou seja, 0,4% menos má que a de 2014. E alguém ainda me há-de explicar como é que um país com 10,3 milhões de habitantes, consegue ter mais de 9,2 milhões de eleitores residentes com direito de voto Não estou a dizer que não haja problema de abstenção, apenas que o problema vem de trás e não piorou.
- O BE teve uma grande vitória. Não teve, não. O BE atinge 9,8% numas eleições em que tudo esteve a seu favor, a começar pela implosão de Marinho e Pinto que deixou 219.000 votos à procura de um lar. O que faz o BE? Fica abaixo dos 10,2% obtidos nas legislativas de 2015 e perde 223.000 votos! Será um bom resultado, até porque descola do PCP, mas chamar isto uma ‘grande vitória’ é uma desconsoladora falta de exigência.
- O PS teve uma grande vitória. Não, não teve. Ou então se teve, António Costa deve um pedido de desculpas (e 5 anos de retroativos do salário de secretário-geral do PS) a António José Seguro. Em 2014, a margem de vitória de Seguro sobre uma coligação que reunia toda a direita democrática foi, segundo o atual primeiro-ministro, “poucochinha” e isso legitimava o valente chuto nos fundilhos que Costa queria aplicar no seu antecessor. Quanto era, exatamente, essa margem poucochinha? Recordemos e contemos: o PS teve 31,46%, a coligação PSD/CDS teve 27,71%, ou seja, uma diferença de 3,75%.Fast forward para 2019, a direita não vai coligada e dois novos partidos vêm disputar o mesmo espaço. O PS alcança 33,39% (sobe apenas 1,93%) e o conjunto da direita democrática (PSD + CDS + Aliança + Iniciativa Liberal) chega aos 30,87%, ou seja, uma diferença de 2,52%. A vitória do PS não só não foi ‘grande’, como, pelos critérios de 2014, foi ‘poucochíssima’.(continuar a ler)
A Verdade É Que O PS Não Teve Uma Vitória Esmagadora, O PSD É Que Teve Uma Derrota Esmagadora
As eleições europeias confirmaram o que já se pronunciava há meses (mesmo com alguns sinais contraditórios pelo meio). António Costa caminha para uma vitória confortável nas legislativas (à espreita da maioria absoluta) e Rui Rio afunda-se nas suas próprias contradições. Mesmo com este grau de abstencionismo — de 68% e que exige cuidado nas leituras –, e com outros derrotados com estrondo, não há outra forma de o dizer. O melhor que Rio conseguiu na sua primeira eleição como líder do PSD foi o pior resultado de sempre do partido.
O líder do PS percebeu o erro de casting na escolha do seu cabeça-de-lista e ‘nacionalizou’ as Europeias. Ao fazê-lo, antecipou uma espécie de grande barómetro das legislativas de outubro. E ganhou a jogada. Duplamente. Jogou o seu próprio peso eleitoral e mostrou que o PS é hoje um partido de Costa e dos outros, e expôs o que é a realidade do PSD, com um núcleo duro que vale hoje na sociedade portuguesa pouco mais de 20% dos eleitores. É este o ponto de partida para a campanha das legislativas.
Rui Rio bem pode dizer que a avaliação dos resultados do PSD tem de ter em conta que, nas últimas eleições europeias, o partido concorreu com o CDS (e o dissidente Aliança). E somados, nestes resultados, aqueles dois partidos, não comparam mal com 2014. Até têm mais votos. Sabe a pouco. Porque a realidade mudou. Em 2014, a PAF (liderada por Pedro Passos Coelho) estava a sofrer o desgaste político do resultado do programa da troika. Agora, o PSD poderia ter capitalizado o descontentamento de quem vê o Estado a mostrar buracos como um queijo suíço. Nem isso foi capaz de mostrar.
«A verdade é que o PS não teve uma vitória esmagadora, o PSD é que teve uma derrota esmagadora. É Rui Rio que tem de mudar, e veremos se vai a tempo.»
António Costa, ECO
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