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segunda-feira, 19 de junho de 2017

Notícias Soltas

Responsabilidade? Só Para As Boas Notícias ?

Não se pode andar a dar lições sobre o aquecimento global, e depois não conseguir sequer dar uma impressão de previsão e de controle perante um fenómeno que se repete todos os anos, nas mesmas condições, como são os fogos florestais. É nestes casos que o vazio de liderança política em Portugal, disfarçado pelo preenchimento regular dos cargos, se torna óbvio. É também nestes casos que fica à mostra a fragilidade extrema do país artificial do optimismo e das boas notícias.

O fogo de Pedrógão-Grande pode ter tido as origens mais extraordinárias, mas ocorreu numa região, numa época do ano e num contexto meteorológico em que os incêndios florestais não são extraordinários. É difícil, por isso, não admitir a hipótese de ter havido uma falha da protecção civil. Não se previu o risco de incêndio florestal, não se pôs a população em alerta para a possibilidade do fogo, não se prepararam meios para uma eventualidade, e quando o incêndio rebentou, não se tomaram todas as providências, como, por exemplo, controlar a circulação automóvel. Ao contrário do que disse o Presidente da República, não parece ter-se feito tudo o que se pôde.

Rui Ramos, OBSR  

Verdade ...

A porta da verdade estava aberta, 
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos. 
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade