A confusão sobre o passado manifestou-se em Belém, no protesto (ou provocação?) de um pequeno número de indivíduos contra a participação do imã da mesquita central de Lisboa na homenagem aos combatentes do Ultramar. Não sei se quem protestou viu no imã uma rendição à moda woke. Se viu, viu mal. (...) A tradicional participação do imã nas homenagens reconhece aqueles que, de crença islâmica, lutaram e morreram por Portugal. Portugal era e é a sua Pátria, mais do que de qualquer nacionalista de internet. Quem protestou não conhece a história de Portugal. (...)
Pela primeira vez, o “sangue” passou a ser o critério da nacionalidade. Só era português quem pudesse provar que descendia de portugueses nascidos na Europa. O objectivo foi impedir os africanos de optarem pela nacionalidade portuguesa, e obterem direito de entrada na antiga metrópole. Mas o decreto gonçalvista correspondia também a um preconceito da esquerda anti-colonial, para quem a ideia de um negro poder e querer ser português não passava de uma ilusão colonialista.
Se em Belém vimos a confusão sobre o passado, em Lagos, nas comemorações do dia de Camões, vimos a confusão sobre o futuro. O Presidente da República resolveu discursar contra a ideia de portugueses “puros”. Como se o problema estivesse num qualquer movimento para determinar o portuguesismo pela cor ou genealogia. Não está. O problema está na imigração maciça, brusca e descontrolada dos últimos anos. A sociedade portuguesa só pode manter-se coesa se, em Portugal, a maioria dos habitantes, independentemente das suas origens, se identificarem como portugueses, falarem português, e partilharem uma história e certos valores. É essa integração que o caos migratório e a distribuição desacautelada da nacionalidade estão a pôr em causa.
A esquerda, para quem em 1975 os portugueses do Ultramar não eram portugueses, acha agora que qualquer recém-chegado a território português tem, só porque desembarcou, direito a ser português. Acontece que ser português não se reduz a um pedaço de plástico para pôr na carteira. Por isso, o Presidente da República não tem razão, quando diz que ninguém é mais português do que o outro. Um português que, seja qual for o seu lugar de nascimento, a nacionalidade dos seus avós, a cor da sua pele ou o Deus a que presta culto, for português por identificação com a história e com os valores consensuais da sociedade portuguesa e por vontade de fazer parte dessa sociedade, será sempre mais português do que quem é português apenas pela conveniência de ter um passaporte que lhe dá o direito de viajar no espaço Shengen.
O futuro de Portugal depende da capacidade de integração da sociedade portuguesa, e não da capacidade de emissão de documentos pela administração pública. Oxalá isto se torne claro antes que as asneiras se tornem irreversíveis.
Se em Belém vimos a confusão sobre o passado, em Lagos, nas comemorações do dia de Camões, vimos a confusão sobre o futuro. O Presidente da República resolveu discursar contra a ideia de portugueses “puros”. Como se o problema estivesse num qualquer movimento para determinar o portuguesismo pela cor ou genealogia. Não está. O problema está na imigração maciça, brusca e descontrolada dos últimos anos. A sociedade portuguesa só pode manter-se coesa se, em Portugal, a maioria dos habitantes, independentemente das suas origens, se identificarem como portugueses, falarem português, e partilharem uma história e certos valores. É essa integração que o caos migratório e a distribuição desacautelada da nacionalidade estão a pôr em causa.
A esquerda, para quem em 1975 os portugueses do Ultramar não eram portugueses, acha agora que qualquer recém-chegado a território português tem, só porque desembarcou, direito a ser português. Acontece que ser português não se reduz a um pedaço de plástico para pôr na carteira. Por isso, o Presidente da República não tem razão, quando diz que ninguém é mais português do que o outro. Um português que, seja qual for o seu lugar de nascimento, a nacionalidade dos seus avós, a cor da sua pele ou o Deus a que presta culto, for português por identificação com a história e com os valores consensuais da sociedade portuguesa e por vontade de fazer parte dessa sociedade, será sempre mais português do que quem é português apenas pela conveniência de ter um passaporte que lhe dá o direito de viajar no espaço Shengen.
O futuro de Portugal depende da capacidade de integração da sociedade portuguesa, e não da capacidade de emissão de documentos pela administração pública. Oxalá isto se torne claro antes que as asneiras se tornem irreversíveis.