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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Vem Aí Tempestade

A propósito da recuperação do controlo público do capital da TAP, António Costa afirmou secamente que a execução do programa de Governo não está sujeita à vontade de particulares que resolveram assumir resolveram assinar um acordo com o Estado português em situação precária, com o Governo em vésperas de eleições legislativas. Mais, acrescentou que a reversão será feita com acordo ou sem acordo com os privados.

Opinião do José Gomes Ferreira:

A gravidade destas declarações não encontra paralelo na história recente de Portugal. Com duas simples frases é passado um atestado de inutilidade à palavra dada pelo Estado através de um Governo legitimamente eleito, o anterior.

A cumprir-se a determinação do actual Primeiro-Ministro, das três uma:
- ou a reversão do negócio se faz unilateralmente, o que só poderá ocorrer por expropriação ou nacionalização gerando avultados pedidos de indemnização;
- ou se faz por acordo decorrente da aceitação pelos privados de avultadas compensações;
- ou o Governo recorre aos tribunais e espera longamente por uma decisão que, se lhe for favorável, também gera devolução de financiamentos e reparação de danos.
Em qualquer dos cenários, os contribuintes perdem sempre por duas vias: têm de assumir pesadas indemnizações e ficam com uma empresa falida nas mãos, onde têm de pôr mais capital e liquidez para não fechar de imediato.

Perda maior, quem está de fora a olhar para um país que prometia ser cada vez mais atractivo para o investimento estrangeiro, começa a pensar em passar ao largo. E quem cá tem investimentos começa seriamente a pensar em fugir a sete pés.
Somemos esta perspectiva a uma oposição feroz da Comissão Europeia a qualquer tentativa de recapitalização pública da TAP sem um radical plano de reestruturação com despedimentos em massa e fecho de linhas aéreas e temos grossa tempestade vinda de Bruxelas a caminho de Lisboa.
As nuvens já começaram a adensar-se no horizonte com a publicação de um relatório discreto da Comissão Europeia onde se pode ler que Portugal não tem margem nenhuma no défice para aumentar despesa pública e desta forma incentivar a economia. (Continuar a ler aqui)

Pois É: Os Números Não Têm Ideologia

O maior aumento de pensões vai ser de 2,5 euros por mês (e só para pensões até 628,8 euros) e o abono de família sobe, no máximo, 5 euros. Então é esta a alternativa e o "virar de página"?

É mesmo assim e não vale a pena iludir a forma como estas coisas são vistas: se um governo de esquerda aumenta as pensões mais baixas em um euro está a fazer uma política social, de combate às assimetrias e de irradicação da pobreza; se um governo de direita aumenta essas mesmas pensões em 2,5 euros, está a fazer uma política de pobreza, miserabilista, austeritária e neoliberal.

Mas os números não têm ideologia e se os olharmos com honestidade intelectual eles nunca nos atraiçoam: um aumento de um euro ou de 2,5 euros é sempre um aumento miserável de pensões miseráveis, seja qual for a cor de quem os decide.
Talvez a partir de agora seja possível a muito boa gente começar a entender o significado da expressão “não há dinheiro”. ( continuar a ler aqui)

Ode Para O Futuro


Falareis de nós como de um sonho. 
Crepúsculo dourado. Frases calmas. 
Gestos vagarosos. Música suave. 
Pensamento arguto. Subtis sorrisos. 
Paisagens deslizando na distância. 
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, 
e amávamos serena e docemente. 

Uma angústia delida, melancólica, 
sobre ela sonhareis. 

E as tempestades, as desordens, gritos, 
violência, escárnio, confusão odienta, 
primaveras morrendo ignoradas 
nas encostas vizinhas, as prisões, 
as mortes, o amor vendido, 
as lágrimas e as lutas, 
o desespero da vida que nos roubam 
- apenas uma angústia melancólica, 
sobre a qual sonhareis a idade de oiro. 

E, em segredo, saudosos, enlevados, 
falareis de nós - de nós! - como de um sonho. 

Jorge de Sena,