sábado, 23 de dezembro de 2023

Notícias Ao Fim Do Dia


A Frase (267)

   Como uma enorme serpente, a Humanidade está a mudar de pele e os sinais mais visíveis desse delicado fenómeno encontram-se na perigosa metamorfose institucional dos Estados.   (Viriato Soromenho Marques, DN)
O mundo contemporâneo transformou-se num pandemónio. Quem olhar para ele numa perspetiva moral, ou procurando encaixar a complexidade do que está a acontecer à nossa vista desarmada em grelhas dicotómicas, seguramente vai enganar-se. 

O caso português é uma metonímia do longo e crepuscular declínio do projeto europeu. A cobardia coletiva revelada na recusa em avançar para uma solução constitucional de partilha federal de soberania, desaguou no atual e iníquo modelo de intergovernamentalismo, onde a influência dos grandes interesses e a conspiração de bastidores no Conselho Europeu substituiu o debate aberto e estratégico sobre o futuro. 
(...)
O orçamento nacional e a política monetária residem hoje na vigilância de Bruxelas e no exclusivo discernimento dos banqueiros centrais (como antena europeia do sistema financeiro global) em Frankfurt. A política de defesa, incluindo a sacrossanta decisão sobre a guerra ou a paz, pertence à NATO, seguindo as orientações da Casa Branca e do Pentágono. 

Ficam os restos para as capitais. Mas, como se vê em Portugal, mesmo os restos aparecem como excessivos. A Educação, a Saúde, a habitação, os transportes transformaram-se num pesadelo para o cidadão-utente e num enigma sem solução para os regentes locais que nos vão cabendo em sorte. (...)

Neblina


Estranho é caminhar na densa névoa:
Solitária está cada planta ou pedra,
Nenhum arbusto enxerga o seu vizinho,
Cada um está só.

Cheio de amigos era, para mim, o mundo
Quando luminosa ‘inda era minha vida;
Agora, que a névoa caiu,
Ninguém mais é visível.

Não é deveras um sábio
Quem não conhece a escuridão
Que, suavemente, nos separa
De tudo inexorável.

Estranho é caminhar na densa névoa:
Viver é estar solitário
Entre gente que se ignora.
Todos estamos sós!

(Hermann Hesse
Tradução de Álvaro)