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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

E, Foi Assim Que Chegámos Aos Dias de Hoje


Apesar do muito que foi sendo escrito – e do intensivo recurso à História para chamar a atenção do que os homens são capazes de fazer e de estragar – os responsáveis políticos e as opiniões públicas europeias dos últimos vinte anos mostraram-se olimpicamente indiferentes aos sinais de alarme que por vezes vinham acima da linha de água. 

E foi assim que chegámos aos dias de hoje, com a confirmação de algumas das previsões: a China assume-se como pretendente natural à liderança global e a Rússia provou, uma vez mais, a natureza sanguinária que é a sua marca desde Ivan o Terrível. Quanto à Europa, fruto das divisões internas, não conseguiu afirmar-se como uma força de interposição política e económica entre as grandes potências. A grande surpresa, no entanto, acabou por acontecer, com grande estrondo, na América, onde o voto recoloca Trump no poder; apesar de desprovido das mais elementares características de urbanidade e de decência, de ser indiferente à sorte dos outros fora dos seus círculos de influência e de desconhecer ou desprezar o património jurídico que garante os direitos de cada um numa sociedade organizada, Trump seduziu e hipnotizou a maioria do eleitorado. (...)

Em resultado, a mais antiga e importante democracia do mundo moderno avança para o autoritarismo a golpes de teatro promovidos nas plataformas sociais e na televisão, reconhece apenas a lei do mais forte e aceita a corrupção como um modo adequado de exercício do poder. Esta mudança de paradigma representa para a Europa, histórica aliada da América, o fim da ligação atlântica privilegiada e da protecção militar de que beneficiava há oito décadas. Num curto espaço de anos, ocorreram alterações tão substanciais no nosso mundo, que os arquétipos e conceitos por que nos regíamos, deixaram de existir. Agora, é tempo de percebermos onde estamos, analisar a situação e ver o que podemos fazer. Pensar que está tudo igual, mais não trará que dissabores e desilusões. (...)

Nunca esquecer que nada na vida, com excepção da morte, está gravado na pedra. Não há predeterminação. O fulgor americano que anima as notícias diariamente pode vir a ser atingido mortalmente pelos tratamentos financeiros não ortodoxos a que Trump sujeitou o sistema. Um colapso é possível e, para muitos, é mesmo inevitável. E nesse caso, até Trump terá dificuldade em manter o seu Mar-a-Lago. Por outro lado, a saúde financeira da China é uma face problemática do sucesso chinês. Os Historiadores têm presente o que aconteceu no Séc. XVII na China quando a queda do comércio para Europa levou ao caos e, consequentemente, à alternância de uma nova dinastia. Xi Jinping só é inamovível se a economia chinesa continuar a funcionar bem. Mas, na verdade, estes são cenários dramáticos que neste momento relevam do domínio da ficção. Não vale a pena morrer a sonhar. (...)

(excertos do texto de José Veiga Sarmento, OBSR)


A Frase (184)

A fantasia do reconhecimento do “estado” da Palestina - A diplomacia não serve para apaziguar grupos radicais. Sobretudo, as fraquezas e os problemas internos de Macron e de Starmer não devem influenciar a política externa de outros países europeus.

Há vários problemas com a fantasia de se reconhecer o “estado” da Palestina. O primeiro é que não existe um “estado” da Palestina. Como se pode reconhecer o que não existe? Existem dois territórios palestinos: a margem ocidental do rio Jordão; e a faixa da Gaza. São territórios distintos, com dois governos diferentes, que não reconhecem legitimidade política um ao outro. Qual das “Palestinas” será reconhecida por Portugal e por outros países europeus? Parece que será a Autoridade Palestiniana na margem ocidental do rio Jordão. Essa é a primeira contradição da fantasia (lamento, mas não é possível chamar-lhe estratégia). Querem reconhecer o “estado” da Palestina por causa da guerra de Gaza, mas se o fizerem estão a atacar directamente a autoridade que governa Gaza, o Hamas.

Só na aparência é que o eventual reconhecimento do “estado” da Palestina constitui um acto de política externa. Na verdade, é um exercício populista de política interna. Por um lado, acham que as maiorias das populações europeias querem reconhecer um “estado” da Palestina. As televisões querem, mas as televisões há muito que deixaram de representar a maioria das populações europeias. Os governos europeus estão convencidos que é popular, internamente, reconhecer o “estado” da palestina, e que também lhes dá uma superioridade moral que não enjeitam, mas a busca de popularidade entre as suas populações é política interna, não é diplomacia.     (João Marques de Almeida, OBSR

Coisas Que Vale A Pena Esperar