segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (30)

Proibir é Solução - Proibir a venda de casas a estrangeiros não-residentes em território nacional. Proibir os senhorios de estabelecerem livremente os preços dos seus arrendamentos. Proibir os donos de apartamentos de os terem fechados se for essa a sua vontade. Proibir os proprietários de usufruírem da sua propriedade como bem entendem, sobretudo se entenderem ganhar dinheiro com ela, seja através de arrendamento seja de alojamento local. Proibir os benefícios fiscais para quem invista em imobiliário.  (Joana Petiz, DN)

O Bloco, que em seis dos últimos oito anos esteve sentado à mesa com o governo socialista de António Costa, tem uma fórmula para resolver a crise de habitação em Portugal e ameaça agora fazer a vida negra à maioria absoluta, levando o tema entre os dentes como um rottweiler.

Factualmente, claro, as ideias do BE - como todas as do BE -, resumem-se a uma: acabar com a propriedade privada, com prioridade àquela que prevê lucro. Diga-se em abono da verdade que o BE já defende esta fórmula há largos anos.

Num Campo De Papoilas


Nem sempre

Nem sempre a noite é clara
deixando perceptível
o encarnado vivo das papoilas.
nem sempre
a voz dos pássaros entoa cânticos
onde o silêncio ainda se consome
e a luz lunar prateia os campos,
e das estrelas saem purpurinas azuis ,
e a espuma das ondas salga a areia fina
onde deixamos marcados os nossos pés.
e os nossos corpos.

Nem sempre

Nem sempre da janela do meu quarto,
consigo ver a velha árvore
a suplicar-me que se faça mutismo,
a implorar-me o amainar dos ventos
para que, entre as minhas margens
se contenham as águas.
Sim as águas.
onde vagueiam hastes perdidas,
onde derretem fogos
ainda por extinguir, no rescaldo dos anos.

Mas hoje,

somente hoje,
e, desculpem-me a ousadia:

Faça-se silêncio!

O ruído é-me nefasto ao gesto,
e os dedos contorcem-se
enquanto o pensamento vagueia
entre as sete colinas desse campo
coberto de vermelho vivo,
tal e qual um manto de papoilas,
a afirmarem-se vida,
e a vidraça que nos separa.

Porque hoje,

somente hoje,
da janela do meu quarto,
quero ignorar a ponte secular
que desaba em ruínas,
quero enfeitar a velha árvore
com estilhaços luminosos
de bolas de sabão,
quero agigantar-me e,
extrapolar-me para além do corpo,
ou da pele,
ignorar as margens,
e quem sabe,
tornar-me ilha,
no cimo de uma montanha.

Somente hoje,
deixem-me pintar de azul - as papoilas -
e apagar tudo o mais, que for dissoluto.

Quer ao gesto. Quer ao pensamento.

(Cristina Cebola)