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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Notícias Ao Fim Da Tarde

>Governo continua a falhar transferência de 172 milhões para a almofada das pensões

>Estação de Arroios do Metro de Lisboa só vai abrir em junho de 2021

>Agência de Ângelo Rodrigues confirma que o ator está fora de perigo

Esta É A Frase

«As palavras-chave são ideia, estratégia, plano. Os partidos têm de mostrar energia, criatividade, pragmatismo, determinação e disponibilidade de cooperação. Ir além das propostas de curto prazo.» (Nuno Cintra Torres, JE)
O Financial Times ( FT) diz que Portugal precisa de:
>Estratégia económica;
>Descer a dívida pública para os 100%;
>Continuar com prudência fiscal, sem austeridade punitiva
>Mais reforma da administração pública;
>Aprofundar a estabilidade do sistema bancário.
Quanto à substância, nada de novo. Estes tópicos poderiam ser os temas principais da campanha eleitoral do PS, PSD ou CDS. Mas o que basicamente vamos ouvir são promessas imediatistas para eventualmente cumprir.
O elemento diferenciador daquele artigo reside no facto de ter sido escrito por:
a) um jornal estrangeiro, 
b) um jornal com o gabarito do FT e, mais ainda, 
c) pelo Editorial Board daquele influente jornal. 
O estardalhaço do artigo só revela que o provincianismo continua de boa saúde em Portugal. É ainda precisa uma voz do além para ser ouvida aqui.
O mesmo fenómeno de desprezo pela opinião qualificada portuguesa se verificou quanto à atratividade de Portugal – cidades, vilas, aldeias, paisagens, monumentos, mar, gastronomia, arquitetura, estilo de vida e, acima de tudo, do melhor ativo português, as pessoas – só foram notados pelos portugueses em geral quando os estrangeiros começaram a dizer maravilhas deste “segredo” europeu, e depois começaram a comprar e a estabelecer-se. Esse momento ocorreu nos últimos anos e foi só então que os que cá nasceram começaram a perceber a preciosidade que é este país.
O momento é propício e o contexto obriga os portugueses, em particular os políticos, a abraçar um projeto comum e maior – Portugal, no sentido de comunidade dos portugueses – e a dedicar-se a tornar Portugal great again. Nesse processo seria útil darem ouvidos aos conselhos e avisos dos sábios portugueses, tão sábios ou mais que os jornalistas do FT.
Para que isso seja possível há uma ideia chave e congregadora de mentalidades e esforços que tem de ser adquirida: o “inimigo” não são os outros portugueses; são os nossos adversários científicos, industriais e comerciais de todo o mundo.
As campanhas eleitorais são o momento para os partidos revelarem que têm uma ideia a oferecer aos portugueses, sustentada numa estratégia bem pensada e consubstanciada num plano com propostas concretas.
As palavras-chave são ideia, estratégia, plano. Os partidos têm de mostrar energia, criatividade, pragmatismo, determinação e disponibilidade de cooperação. Devem fazer um esforço e para ir além das propostas de curto prazo, que muitas vezes apenas servem objetivos imediatos com vista à eleição ou reeleição. A coisa tem de ser mais profunda, sustentada no tempo e tanto quanto possível à prova da volatilidade global, cada vez mais intensa. Análises regulares PESTEL e SWOT de Portugal são indispensáveis para se conhecer o terreno que se pisa.
As propostas devem apresentar à discussão dos portugueses uma visão de longo e médio prazos para Portugal no contexto global – cada vez mais fluido e imprevisível. Devem ter como objetivo procurar garantir a viabilidade do país a longo prazo, combater a baixa taxa natalidade, promover ativamente a procriação, construir redes de apoio eficazes às famílias e aos cada vez mais numerosos mães e pais solteiros. Para além da resolução dos eternos problemas do dia a dia como, por exemplo, garantir educação e casa para toda a gente, SNS de qualidade, apagar fogos florestais, segurança nas ruas, proteção do mar português ou projeção do património cultural.(continuar a ler)
Quando os portugueses se sentirem orgulhosos de Portugal para além dos sucessos desportivos e da paisagem, ou seja, quando os portugueses se sentirem orgulhosos e confiantes de si mesmos, Portugal será great again. Partidos, sociedade civil, cidadãos, essa é a vossa missão.

A Hipocrisia Do Amor Ao Povo


Estes amam o povo, mas não desejariam, por interesse do próprio amor, que saísse do passo em que se encontra; deleitam-se com a ingenuidade da arte popular, com o imperfeito pensamento, as superstições e as lendas; vêem-se generosos e sensíveis quando se debruçam sobre a classe inferior e traduzem, na linguagem adamada, o que dela julgam perceber; é muito interessante o animal que examinam, mas que não tente o animal libertar-se da sua condição; estragaria todo o quadro, toda a equilibrada posição; em nome da estética e de tudo o resto convém que se mantenha.

Há também os que adoram o povo e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo por que parecem sacrificar-se; bate-lhes no peito um coração de altos senhores; se vieram parar a este lado da batalha foi porque os acidentes os repeliram das trincheiras opostas ou aqui viram maneira mais segura de satisfazer o vão desejo de mandar; nestes não encontraremos a frase preciosa, a afectada sensibilidade, o retoque literário; preferem o estilo de barricada; mas, como nos outros, é o som do oco tambor retórico o último que se ouve.


Só um grupo reduzido defende o povo e o deseja elevar sem ter por ele nenhuma espécie de paixão; em primeiro lugar, porque logo reprimiriam dentro em si todo o movimento que percebessem nascido de impulsos sentimentais; em segundo lugar, porque tal atitude os impediria de ver as soluções claras e justas que acima de tudo procuram alcançar; e, finalmente, porque lhes é impossível permanecer em êxtase diante do que é culturalmente pobre, artisticamente grosseiro, eivado dos muitos defeitos que trazem consigo a dependência e a miséria em que sempre o têm colocado os que mais o cantam, o admiram e o protegem.


Interessa-nos o povo porque nele se apresenta um feixe de problemas que solicitam a inteligência e a vontade; um problema de justiça económica, um problema de justiça política, um problema de equilíbrio social, um problema de ascensão à cultura, e de ascensão o mais rápida possível da massa enorme até hoje tão abandonada e desprezada; logo que eles se resolvam terminarão cuidados e interesses; como se apaga o cálculo que serviu para revelar um valor; temos por ideal construir e firmar o reino do bem; se houve benefício para o povo, só veio por acréscimo; não é essa, de modo algum, a nossa última tenção.


Agostinho da Silva, no seu livro “Considerações”