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sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Uma Técnica Cínica De Exercício De Poder
Houve quem tivesse notado que nenhum outro presidente da república fora tão duro desde o general Eanes. Mas o ponto é que também nunca um chefe de governo foi tão frouxo na sua resposta ao presidente.Em primeiro lugar, tudo o que ele não fez em quatro meses, depois de Pedrogão Grande. Porque foram precisos mais 43 mortos? Porque optou por mais uma “reforma florestal”, à D. Dinis, em vez de se ocupar, por exemplo, das faixas de segurança à volta de estradas e povoações, como manda a lei? Porque não fez funcionar a Protecção Civil?
Manuel Alegre falou de “amiguismo”, outros falaram do seu paroquialismo lisboeta. Mas a dificuldade de António Costa é mais profunda. É de quem, como explicou aos jornalistas na noite de domingo, não acredita que seja possível fazer melhor, e que por isso foi capaz de dizer, enquanto os mortos eram contados, que haveria mais tragédias para o ano e que a demissão da ministra não faria a mínima diferença.
De súbito, eis um primeiro-ministro que os mais distraídos ou perversos sempre tinham descrito como um optimista bonacheirão, revelado como o seu contrário, um céptico frio e brusco.
Para salvar a sua carreira, teve de se aliar com partidos que negam tudo o que o PS representou, a começar pela integração europeia.
É um primeiro-ministro fraco, dependente de negociações constantes com este e aquele, não só em Lisboa, mas, devido à vulnerabilidade financeira do país, também em Bruxelas. A fraqueza explica a “capitulação” perante o discurso presidencial de terça feira. Houve quem tivesse notado que nenhum outro presidente fora tão duro desde o general Eanes. Mas esse não é o ponto. O ponto é que também nunca um chefe de governo foi tão frouxo na sua resposta ao presidente.
É isto que lhes ficou ao fim de mais de quinze anos de governo em duas décadas: uma técnica cínica de exercício do poder. O resto já não lhes importa, e por vezes mal conseguem disfarçar a sua impaciência, como aconteceu ao primeiro-ministro na noite de domingo. “Não me faça rir”, disse à jornalista. Há muito que todas as piedades do regime não têm outro efeito senão esse, fazê-los rir. Este é de facto o primeiro governo da desistência nacional.
Excertos do artigo de Rui Ramos, OBSR
Façamos Da Interrupção ...
Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
Fernando Sabino
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