segunda-feira, 26 de maio de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (132)

O PSD é o pivot na bifurcação da democracia portuguesa. Os partidos do arco da governação não quiseram tocar na vida dos portugueses nem com a ponta dos dedo.     (Carlos Marques de Almeida, ECO)

Os grandes partidos do Regime entretidos com jogos políticos, ambições pessoais e animados pela superioridade moral de uma elite democrática nascida da legitimidade revolucionária de Abril ouviam sem ouvir a mensagem do povo. O povo que devora o Correio da Manhã na barbearia. O povo que gasta os olhos no écran da televisão do Correio da Manhã. O que faltava no futuro da política democrática nacional era precisamente um partido Correio da Manhã – popular, populista, a voz de um Portugal esquecido para além de todas as ideologias. Na correspondência com a sociologia da nação, o Chega explode no coração da democracia e a República fica perplexa no labirinto da crise criada pelo Regime.

A humilhação do PS é o símbolo de uma República derrotada. A ascensão do Chega é a consagração democrática de uma nova ideia de República renovada e reciclada para os tempos modernos em que a pós-verdade é toda a verdade que domina o espaço público. A devastação da esquerda é um sinal. 

Um retrato parado no Portugal esquecido e abandonado pelas promessas de Abril. Um retrato parado no subúrbio das grandes cidades – a selva urbana, o inferno habitado, as camas alugadas por turnos, a pobreza triste, os horizontes tapados por grafitis coloridos.

O Chega pretende a hegemonia à direita. O Chega não está interessado no bipartidarismo ou no tripartidarismo. O Chega quer ser maioritariamente o partido único. O Chega introduz na política nacional o ódio institucionalizado à esquerda, não há qualquer ideia de pluralismo ou de alternância. O Chega representa o regresso da matriz amigo-inimigo à política democrática que deixa assim de ser simplesmente democrática. A erradicação da esquerda é o seu propósito, a absorção de toda a direita o seu desígnio.

A própria estruturação da divisão política entre esquerda e direita é posta em causa. Ser de direita é ser do Chega, não existe alternativa. 

O Chega reflecte ainda um outro eixo vertical ao espaço social da política – a distinção entre os de cima e os de baixo. Este eixo justifica a linguagem, as maneiras, a vulgaridade, a agressividade de uma discussão num qualquer café de Portugal.

O PSD é o pivot nesta bifurcação da democracia portuguesa. Os partidos do arco da governação não quiseram tocar na vida dos portugueses nem com a ponta dos dedos.
 
(Estes são alguns tópicos do texto de Carlos Marques de Almeida, ECO)

Satélite


Fim de tarde.
No céu plúmbleo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.

Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
— Satélite.

(Manuel Bandeira)