terça-feira, 28 de novembro de 2023

Notícias Ao Fim Da Tarde

Saiba Como Vai Este País

A República resvala para o fim de ciclo. A política e os políticos exibem a histeria dos movimentos automáticos para se recolocarem para o novo ciclo. Como se fosse assim tão simples a mudança de ciclo. Este automatismo é explicado pela rotina de um rotativismo em que o ciclo muda sem mudar o ciclo. Muda o cenário e os figurinos, mas o enredo repete-se. Só que desta vez depois de Abril existem novas personagens que não querem ser figurantes.
O Presidente da República e o Primeiro-Ministro itinerante são personagens do velho ciclo. Fica o conflito cansado e cínico entre cúmplices desavindos em torno de uma intriga de salão que abala o Regime e a República.

O Presidente tem o ar cansado do criador de factos políticos que esgotou o reportório. O Presidente da República limita-se a imitar a imagem que tem do Presidente da República que foi. Para Belém o futuro é uma revisitação do passado. Os portugueses não esperem nada porque já nada há a esperar. Esperar apenas que o mandato termine para mudar o ciclo. Ainda há tempo e paciência para selfies.

O Primeiro-Ministro itinerante inaugura e anuncia reformas que sempre se negou a fazer. O Primeiro-Ministro fictício de um País imaginário tem o ar irresponsável e enérgico de quem foi vítima da sua própria inépcia e passeia a sua vitimização para português ver. Desdobra-se o Chefe do Executivo em declarações politicamente amuadas para disfarçar a incompetência estrutural que está na base da sua carreira política – o sobrevivente que esteve em todos os ciclos vê-se agora excluído do próximo ciclo político. Depois de tanto sucesso e ginástica de aparelho, todas as carreiras políticas acabam em fracasso.

Talvez seja possível fazer o esboço de uma hipótese de balanço sobre o estado da República em pleno vazio institucional – a política é um relatório de intransigências que diminuem o País.+.  
(excertos do texto de Carlos Marques de Almeida, ECO)

A Frase (248)

Em Portugal, em 1975, Novembro salvou Abril. Salvou a liberdade e a democracia. Permitiu a Constituição e as eleições. Prometeu o pluralismo, que garantiu. Não vingou, não matou, não prendeu, nem proibiu os responsáveis pela deriva autoritária e revolucionária. Sem Novembro, teríamos talvez a ditadura ou uma a guerra civil. Mas não a liberdade.
(António Barreto, Público)

Alguns socialistas, em especial, têm enorme jeito para acrobacia e outras artes de contorção. Um partido que cresceu, em 1975, graças à luta contra o comunismo, acabou por não ter remorsos numa aliança com aquele partido. De modo parecido, um partido que sobreviveu graças ao 25 de Novembro, não vê com bons olhos os que o querem assinalar.

De Uma Só Vez Recolhe


 De uma só vez recolhe
Quantas flores puderes.
Não dura mais que até à morte o dia.
Colhe de que recordes.

A vida é pouco e cerca-a
A sombra e o sem remédio.
Não temos regras que compreendamos,
Súbditos sem governo.

Goza este dia como
Se a Vida fosse nele.
Homens nem deuses fadam, nem destinam
Senão o que ignoramos.

(Ricardo Reis)