Portugal está a perder mais de dois mil milhões de euros com os jovens que não estudam, não trabalham nem frequentam cursos de formação. As contas são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), calculando que o "custo" da inactividade de 15% da população entre os 15 e os 29 anos corresponde a 1,2% do Produto Interno Bruto. Entre os países do Sul da Europa fortemente afectados pela crise, só Itália e Grécia perdem mais.
Ao mesmo tempo que a minha costela patriótica sente alegria por António Guterres, e lhe deseja a melhor sorte do mundo, a minha costela realista não consegue deixar de sentir uma enorme melancolia por ver a disparidade entre os feitos que estes dois homens alcançaram internacionalmente e as limitações que revelaram enquanto primeiros-ministros de Portugal. Barroso e Guterres não são diferentes do canalizador português do Luxemburgo ou da porteira de Paris: a qualidade que lhes foi reconhecida no estrangeiro nunca foi revelada cá dentro.
Não é possível olhar para isto sem apreensão. É absurdo que quem tem talento para chegar a presidente da Comissão Europeia ou secretário-geral da ONU não tenha qualquer talento para desempenhar o cargo de primeiro-ministro de Portugal – e tanto Guterres como Durão falharam redondamente em São Bento, cada um à sua maneira. Ora, o mal não pode estar apenas nestas pessoas. O mal tem de estar nas insuficiências estruturais do país e na tremenda inércia das suas instituições, que secam os melhores. É por isso que ao mesmo tempo que fico feliz por Guterres cresce a minha desilusão em relação a Portugal. A sua vitória pessoal é um espelho da nossa derrota colectiva.
Excerto do artigo de João Miguel Tavares,'Tão bons lá fora tão maus cá dentro', Público




