quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (24)

Os políticos em Portugal vivem num mundo próprio onde a realidade não entra. O choque acontece quando a realidade se faz acompanhar com um “mandado de busca”.    (Carlos Marques de Almeida, ECO)

 Portugal já é uma república de juízes. Um ciclo político está a chegar ao fim. E está a chegar ao fim da pior maneira possível e imaginária. A política em Portugal está entregue a personagens pequenas sem visão ou decência. Não há estadistas, não há heróis políticos que representem uma ideia para o país. A superfície democrática esconde a oligarquia dos interesses e das influências. É como se a democracia fosse um grande bazar com reservados para os grandes negócios. Os grandes negócios beneficiam uma pequena elite e a República sofre a demência de um regime novo que sempre foi velho. Velho nos vícios, velho nas ambições pessoais, velho na miséria de quem vem de baixo, velho sem mundo, velho com dinheiro novo. Com a sociedade bloqueada, só a política fornece o elevador social. E o elevador social é a vergonha da Nação.  (...)

A crise de Regime é o fim de um ciclo. E o fim de um ciclo é o fim de uma era. (...)

A decadência da democracia portuguesa exige o estabelecimento de um novo equilíbrio na relação entre os cidadãos, os representantes políticos e o Estado. Neste momento, a democracia de Abril é uma caricatura em farrapos, uma “falsa fantasia”, um formalismo eleitoral, um Parlamento com conversas de café, uma campanha eleitoral marcada pelo tacticismo de curto prazo. O novo ciclo exige trabalho político que a política se tem recusado a fazer. Nos dias de hoje, Portugal é uma democracia em transição.

Tornar-te-ás Só Quem Tu Sempre Foste

Tornar-te-ás só quem tu sempre foste.
O que te os deuses dão, dão no começo.
De uma só vez o Fado
Te dá o fado, que és um.

A pouco chega pois o esforço posto
Na medida da tua força nata —
A pouco, se não foste
Para mais concebido.

Contenta-te com seres quem não podes
Deixar de ser. Ainda te fica o vasto
Céu p’ra cobrir-te, e a terra,
Verde ou seca a seu tempo.
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(12-5-1921,Ricardo Reis)