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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sem Palavras . . .

Silêncio


Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

Para Além Dos Genes . . .

"Nesta época de gene disso e gene daquilo, é importante lembrar que nossas experiências também trazem contribuições importantes para quem nós somos como pessoas," afirma Kenneth Kendler, da Universidade da Virgínia (EUA).
"Quando estamos em fase de crescimento é frequente ouvirmos a expressão 'Você é o que você come'. O que este estudo mostra é que é também uma grande verde 'Você é o que você experimenta'.
Ou seja, a sua história de vida fica com você, influenciando o seu modo de ser, nas coisas boas ou nas coisas más", diz ele.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas estudaram gémeos idênticos, além de um mesmo ambiente familiar

Segundo os cientistas, conforme passam da infância para a vida adulta, os gémeos passam a divergir significativamente nos seus níveis de sintomas relacionados com a ansiedade e a depressão.
Como compartilham um background genético idêntico e as mesmas condições familiares, essa divergência só pode ser fruto das experiências individuais durante a vida.
Os cientistas concluíram que a contribuição dos factores ambientais para as condições objectivas de saúde, como a ansiedade e a depressão, é muito grande

As nossas experiências de vida delineiam a nossa personalidade, permanecem connosco e influenciam nosso estado emocional.

DS

Pensar Portugal É Pensá-lo No Que Ele É E Não . . .

. . . Iludirmo-nos sobre o que ele é. 


Ora o que ele é é a inconsciência, um infantilismo orgânico, o repentismo, o desequilíbrio emotivo que vai da abjecção e lágrima fácil aos actos grandiosos e heróicos, a credulidade, o embasbacamento, a difícil assumpção da própria liberdade e a paralela e cómoda entrega do próprio destino às mãos dos outros, o mesquinho espírito de intriga, o entendimento e valorização de tudo numa dimensão curta, a zanga fácil e a reconciliação fácil como se tudo fossem rixas de família, a tendência para fazermos sempre da nossa vida um teatro, o berro, o espalhafato, a desinibição tumultuosa, o despudor com que exibimos facilmente o que devia ficar de portas adentro, a grosseria de um novo-rico sem riqueza, o egoísmo feroz e indiscreto balanceado com o altruísmo, se houver gente a ver ou a saber, a inautenticidade visível se queremos subir além de nós, a superficialidade vistosa, a improvisação de expediente, o arrivismo, a trafulhice e o gozo e a vaidade de intrujar com a nossa «esperteza saloia», o fatalismo, a crendice milagreira, a parolice. Decerto, temos também as nossas virtudes. Mas, na sua maioria, elas têm a sua raiz nestas misérias. Pensar Portugal? Mas mais ou menos todos sabemos já o que ele é. O que importa agora é apenas «pensá-lo» — ou seja, pôr-lhe um penso...

Vergílio Ferreira