terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (34)

 A competência do Almirante resulta da incompetência dos políticos, a figura tutelar de um militar que promete a ordem onde reina o caos. O que aflige as mentes é a ausência de obstáculos ao “poder inorgânico” com que o candidato convence a liberdade dos portugueses.  (Carlos Marques de Almeida, ECO)
 
(...) Não admira que os portugueses, cansados com a degradação política da República, identifiquem no Almirante a luz de uma referência moral. O Almirante parece ocupar aquele espaço politicamente oblíquo que se situa entre o centro-esquerda e o centro-direita.   

Mas a sua não vinculação ao espaço político-partidário dá-lhe uma latitude inesperada.

A natureza crepuscular de um PS sem liderança e dividido em facções e grupúsculos que não representam nada a não ser os interesses clientelares e os ódios de estimação. Aliás o espectáculo que o PS proporciona ao país é de uma incompetência revoltante. Mas sobretudo é a exibição de um modo de fazer política onde não existe uma ideia para Portugal, apenas e tão-somente o desejo de ganhar as eleições para a Presidência da República. O PS como pai da democracia julga-se dono da República e a exclusão de Belém é uma suprema humilhação. A terceira fila de candidatos socialistas, sendo todos estimáveis, acabou a suas carreiras políticas em desgraça. O PS apresenta políticos retirados com se fossem reservas da República.

Mas a direita não se apresenta melhor nem inunda o país com uma onda de entusiasmo. O candidato oficial do PSD é uma figura do comentário que também falhou politicamente. Será destino da Presidência da República ter candidatos que representam o fracasso político? 

Quanto ao Chega é o candidato da Junta que está no circuito para garantir a fidelidade dos clientes da mercearia. Quanto aos Liberais é porque é urgente uma candidata mulher sem passado ou currículo e quem sabe se com ou sem futuro.

A democracia portuguesa não consegue gerar os “candidatos naturais” à Presidência. E quando gera os “candidatos naturais” à Presidência estes não querem ser Presidentes da República. Este é o maior sintoma da doença da República que deveria suscitar uma profunda reflexão sobre o cargo e sobre a eleição.

A vinculação simbólica ao Presidente da República é porque os portugueses identificam na figura qualquer coisa próxima a uma ideia de identidade nacional. 

Círculo

Digo que nenhuma palavra
detém as algemas do tempo,
que nenhuma canção
afoga os estrondos do lamento
que nenhum silêncio
abarca os gritos que se calam.
Digo que o mundo é um imenso pântano
onde submergimos lentamente,
que não nos conhecemos nem nos amamos
como creem os que ainda podem remontar sonhos.
Digo que os poentes se rompem
ao mais leve som,
que as portas se fecham
ao murmúrio mais débil,
que os olhos se apagam
quando algo geme perto.
Digo que o círculo se estreita cada vez mais
E tudo que existe
Caberá num ponto.

(Susana Thénor)