terça-feira, 13 de maio de 2025

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (121)

É cruel olhar para as reportagens com centenas de pessoas a tentarem entrar em autocarros a abarrotar para irem trabalhar, numa vida que já é difícil e que, de repente, ficou ainda mais infernal, e sentir-se orgulhoso porque a “luta laboral” está a “correr muito bem”, nas palavras de quem convoca a greve. E isto não tem a ver com a questão de que as greves só têm efeito se provocarem dano. 

Porque devemos perguntar: dano a quem? Na origem, a greve servia para dar prejuízo ao “patrão”, o que detém “o capital” e que deixa de “lucrar”, porque a produção paralisa. Mas com a criação (artificial) de monopólios do Estado, esta realidade muda-se para o combate político entre quem está no poder e quem lá quer chegar… E que se lixe quem sai ‘morto’ ou ‘ferido’.

Em praticamente toda a Europa (excluindo Rússia), só mesmo Portugal não lê, hoje, “comunismo = crueldade”. Isto apesar de, também por cá, os exemplos se acumularem. Mas já lá vamos. Além do velho argumento das “razões históricas na luta contra o fascismo”, a excelente imprensa que as ideologias comunistas e semelhantes (marxistas ortodoxas, trotskistas, maoistas...) sempre tiveram, deram um nível esculpatório a quem sempre fechou (e fecha) os olhos a alguns dos maiores crimes contra a Humanidade.(...)

Tal como os igualmente abomináveis nazismo e nacional-socialismo, primos direitos do comunismo, por quanto são igualmente totalitários, colocam o Estado antes do indivíduo e (como tal) resultam, sempre, em milhares ou milhões de mortos, as ideias que nascem do ódio tendem a ser bem populares, pelo menos em alguns períodos. 

Para piorar, ao contrário da extrema-direita, a esquerda veste-se de cordeiro - ou melhor, do cão pastor protetor dos mais fracos do rebanho. Isto, até ao momento em que estes dão jeito para carne para canhão. Foi o que se viu por cá, nos últimos dias, na greve da CP.

(Ricardo Simões Ferreira, DN)

A Parte Do Indolente É A Abstrata Vida

 

A PARTE do indolente é a abstrata vida.
Quem não emprega o esforço em conseguir,
Mas o deixa ficar, deixa dormir,
O deixa sem futuro e sem guarida,

Que mais haurir pode da morta lida,
Da sentida vaidade de seguir
Um caminho, da inércia de sentir,
Do extinto fogo e da visão perdida,
Senão a calma aquiescência em ter
No sangue entregue, e pelo corpo todo
A consciência de nada qu'rer nem ser,

A intervisão das coisas atingíveis,
E o renunciá-las, como um lindo modo
Das mãos que a palidez torna impassíveis.

(Fernando Pessoa)