segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (250)

No país sem ideologia, a avaliação das posições políticas no Parlamento e na rua obedecem ao mesmo critério – o volume máximo no som das palavras e o número máximo de manifestantes na rua.  (Carlos Marques de Almeida, ECO)

Entre uma micro-ideologia de esquerda e uma micro-ideologia de direita a diferença é nenhuma e tudo acaba numa confusão de imposições e de cedências para manter o status-quo. Se o país é um complexo vitral no meio da grande catedral da democracia, as negociações sobre o Orçamento são uma discussão sobre a distribuição dos fragmentos vermelhos e dos fragmentos púrpuras. O que o Governo púrpura não tem e o PS vermelho não tem é a visão global do mundo real que o vitral pretende representar. Sem o compasso da ideologia, sem a visão global do país político e do mundo social, a política é uma viagem de improviso até ao limite em que a cidade muda de nome. É construir o futuro radioso com as soluções do passado numa cidade desconhecida.

A (...) direita radical que também não tem qualquer ideologia para além de um profundo ódio aos regimes liberais. Por isso dirá tudo e o seu contrário numa espécie de teatro político público onde o macabro se mistura com as mais puras e sublimes intenções. Resta dizer que as soluções propostas vão novamente no sentido de construir o futuro com as soluções do passado. A direita radical sofre da mesma doença que pretende curar – o domínio completo de uma micro-ideologia radical. 

Pode um país existir sem uma ideologia? Pode um Orçamento ser apenas um documento técnico sem métrica política ou visão de longo prazo? Em Portugal parece que sim. Os bombeiros sapadores invadem as escadarias do Parlamento sem oposição da polícia e afirmam que não entram na Assembleia da República porque não querem. Porque respeitam as instituições. Mas que instituições? No meio das palavras de ordem, pneus a arder, tochas a debitarem fumo vermelho em pleno Orçamento, os bombeiros estão de que lado?    (Ler texto integral)

Gosto Quando Te Calas

 
Gosto quando te calas e ficas distante e
como te queixando, mariposa em arrulho.
E me ouves de longe e minha voz não te alcança:
deixa que eu me cale com o teu silêncio.

Deixa que te fale também com teu silêncio
claro como a lâmpada, simples como o anel.
És tal qual a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, remoto e singelo.

Gosto quando te calas pois ficas como ausente.
Distante e triste como se estivesses morta.
Uma palavra então e só um sorriso bastam.
E fico alegre, alegre por não ser real.

(Pablo Neruda)