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domingo, 19 de maio de 2019
Há Qualquer Coisa De Aldeia Gaulesa Neste Sistema Político
— para o melhor e para o pior.Se as últimas sondagens nos dão alguma indicação, a mais interessante é como, ao contrário de toda a Europa onde a paisagem partidária tem vindo a mudar, Portugal mantém-se imune a alterações substanciais. Os dez anos de crise não produziram nenhuma força política nova, ao contrário do que aconteceu em Espanha, França, já para não falar dos casos de Itália e Grécia.
Sondagens são sondagens — e até ao lavar dos cestos, no domingo próximo, dia de eleições, é vindima. Mas a confirmarem-se nas urnas os resultados das sondagens, mais uma vez se demonstrará que o sistema político português tem sido em 45 anos de democracia quase à prova de bala. Com a excepção do Bloco de Esquerda, (...) todos as tentativas de criação de novas formações políticas foram condenadas ao insucesso.
É um facto confortável concluir que o partido de extrema-direita que se preparou para estas eleições não terá grande sucesso — valha a verdade que o CDS resolveu funcionar como tampão, endireitando ainda mais o discurso nesta campanha. Mas as esperanças que alguns depositavam numa candidatura do Aliança ou mesmo do PAN parecem desvanecidas. Há qualquer coisa de aldeia gaulesa neste sistema político — para o melhor e para o pior.
(excertos do Editorial do Público de hoje)
Das duas uma - ou caímos todos num marasmo ou ... o conservadorismo é a realidade não admitida e escondida no âmago de muitos.
Uma Alma Gémea
As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar.
Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção.
(...) O desejo de encontrar uma alma gémea não é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda.(...)
Uma alma gémea é a prova que não estamos sozinhos. Ou seja: é a prova de que a alma existe. Não faz nem diz o mesmo que fazemos e dizemos — mas tem uma forma de fazer e dizer tão parecida com a nossa, que deixa de interessar o que é dito e feito. Uma alma gémea faz curto-circuito com os fusíveis corpo/coração/razão. Não é o «quê» — é o «porquê». O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o «não ser preciso falar» - é outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Não é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Não precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. Não têm passado. Não se esforçaram. Estão. É essa a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho doutro ninho? Duas almas gémeas podem ser.
Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. O coração pára de bater. A existência é interrompida. No abraço do irmão, do amigo, da amante, há sensação, do corpo, do tempo, do coração. Há sempre a noção dum gesto posterior. No abraço de duas almas gémeas, mesmo quando se amam, o abraço parece o fim. Uma pessoa sente-se, ao mesmo tempo, protegida e protectora. E a paz é inteira - nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra, é precisa para a completar. Pode passar a vida toda. Não importa.
Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença.
Miguel Esteves Cardoso
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