Todas estas Reformas Estruturais não se confundem com Pactos de Regime nem Acordos de Legislatura nem Reformas Sectoriais. O que está em causa é uma preocupação da política portuguesa que se arrasta desde o século XIX – Recentrar o Estado ao serviço dos portugueses e eliminar o Estado que se serve dos portugueses. Acabar com um Estado que se agarra a Portugal como um corpo estranho.
É como se a cultura de quintal fosse o marcador social da política portuguesa – o domínio de uma classe política instalada e medíocre que encontra no Estado a origem de todos as benesses e privilégios devolvendo exclusivamente as grandes proclamações demagógicas e os grandes negócios centrados na multiplicação dos quintais.
É nos quintais que vivem e procriam os pigmeus da burocracia. Logo, todas as Reformas Estruturais implicam o controlo do mecanismo gigante da burocracia, bem como a circulação das elites que ocupam os cockpits do sistema.
O que o Governo parece pretender fazer é a Reforma do espírito sectário e a Reforma do facilitismo estrutural a uma certa Ética da República. De certo modo, o que o Primeiro-Ministro anuncia é uma Revolução Cultural.
Este programa político não é apenas para o tempo de um Ministro, mas para o tempo de uma geração.
(Carlos Marques de Almeida, ECO texto na íntegra)