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sexta-feira, 23 de maio de 2025

A Frase (129)

Passados 50 anos, o paralogismo continua evidente: um partido antissistema não pode querer fazer parte do sistema. Os eleitores do Chega, como então os do PCP, são contra o Governo, qualquer que ele seja. Nunca aceitarão ver o seu partido apoiar uma solução alheia de poder.

Certas tolices nunca morrem. Quando, na noite das eleições de 18 de maio, André Ventura afirmou que “o Governo de Portugal depende do Chega e só do Chega”, cometeu o mesmo erro lógico de Álvaro Cunhal a 25 de abril de 1975, falando de “maioria de Esquerda” após as primeiras eleições constitucionais. Passados 50 anos, o paralogismo continua evidente: um partido antissistema não pode querer fazer parte do sistema.

 Prova evidente disto é o desastre sofrido pelos comunistas quando, 40 anos depois das primeiras eleições, e 10 depois da morte de Cunhal, finalmente se realizou a tal “maioria de Esquerda”, no governo da chamada “geringonça”.

O puro “voto de protesto”, de quem não gosta do que está e não se interessa em propor alternativas, sobe naturalmente em períodos de crise e transformação, como o atual. Esta atitude eminentemente negativa, por muito irresponsável.

O que isto significa é que, para a governação concreta do país, os deputados do Chega, tal como os da Extrema-Esquerda, são realmente irrelevantes. É muito desagradável que mais de 30% do parlamento apenas manifeste contestação; mas, por isso mesmo, irão ocupar a legislaturas com protestos retóricos e números mediáticos, para fingir a relevância que realmente nunca terão. Porque no dia em que a tiverem, perdem a única razão dos votos que receberam.

Foi assim em metade dos nossos governos constitucionais, vigorando em 40% do tempo desta democracia.

Claro que isso impedirá as famosas “reformas estruturais”; mas essas não existem há décadas, e também estiveram ausentes durante vários dos governos maioritários. Seria importante realizá-las, mas os bloqueios que as impedem são muito mais profundos que a composição parlamentar.

Vale a pena lembrar que, apesar de todos os problemas, e são muitos e graves, somos um país rico, com uma economia a crescer e uma dívida pública em redução. Afinal, felizmente, a maior parte daquilo que realmente interessa depende, não do Governo e do Parlamento, que se perdem em embates, insultos, sonhos e ilusões, mas da sociedade e da economia, que todos os dias lidam com a realidade.

(excertos do texto de João César das Neves, OBSR)

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