A antiga jóia do novo socialismo e da modernização de Portugal é hoje uma personagem trágica que é a face visível de uma democracia invisível. Sócrates exibe a impunidade dos homens providenciais, o carisma do excesso e da ambição, a fragilidade de uma história de encantar, em que acredita profundamente, e em que acredita que Portugal pode acreditar. (...)
A Justiça está obviamente sobre uma enorme pressão. Feito o julgamento na opinião pública com o réu condenado e sem recurso, se Sócrates é ilibado é o descrédito, se Sócrates é condenado é o descrédito.
A República enfrenta um dilema clássico – Sem Democracia não existe Justiça. Sem Justiça não existe Democracia. No Portugal contemporâneo, a Democracia está em conflito com a Justiça. Cansados e traídos pela fraqueza das instituições resta aos portugueses percorrer a grande via que é a Avenida da Liberdade.
Depois há o silêncio devastador do PS. O silêncio de uma reflexão que não foi feita em tempo útil e que não será feita na inutilidade do tempo presente. (...) Politicamente o PS não diz nada. (...)
O PS ao não dizer nada contribui para a teia de cumplicidades, interesses, ambições, expedientes, que degradam a democracia ao nível de um esquema exemplar que garante a obscuridade de uma transparência invisível. Falta coragem, falta moral, falta política no PS. A democracia exige o preço do escrutínio. A cumplicidade exige o preço da negação. O PS está em negação há dez anos. Portugal não é dado a reflexões, prefere a tranquilidade das repetições. (...)

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