Esta constante aceleração, promulgada pela tecnologia, levou as empresas, os governos, os media, as pessoas e a sociedade em geral a avançar. E este ato de prosseguir continuamente não é, de todo, um sinónimo de progresso multidimensional. A história já demonstrou em diversas ocasiões a importância de pensar para agir. Descartes levou esse desígnio ao limite, com a sua famosa premissa Penso Logo Existo. No limite, de acordo com o filósofo francês, haverá hoje uma parte muito significativa de pessoas que pura e simplesmente não existem, apenas reagem. (...)
Nesta era do “multiconteúdo”, real e fake, refletir tornou-se um hábito quase de luxo e, de certa forma, desconfortável. No lado oposto, parar de pensar com recurso ao consumo de conteúdo “leve e familiar” provoca relaxamento e uma espécie de apatia. (...)Quando o limite é atingido (estado em que grande parte da população ocidental vive), termina a capacidade para absorver em modo crítico, criativo ou construtivo. Este é o “ponto G” para a total permeabilidade à desinformação e hipersensibilidade; uma espécie de narrativa dicotómica onde existe apenas o certo ou errado, o bom ou mau, o povo ou a elite.
Num mundo onde os conteúdos, a informação e, sobretudo, a desinformação são conduzidas por algoritmos de segmentação, através de um processo no qual cada vez menos existe escolha livre ou consciente, o julgamento dicotómico supera largamente qualquer questão de foro sensível.
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