Sem surpresa, os anúncios de mudanças sectoriais que têm sido feitos pelo Governo são sucedidos por uma série de críticas, a generalidade delas no mesmo sentido. É normal, faz parte da vida em democracia.
Algumas críticas serão mais pertinentes e certeiras do que outras. Muitas decorrem do velho princípio, também comum em democracia: tudo o que o campo político adversário faz é mal feito e pretende apenas ser um “ataque” a isto ou àquilo. Outras ainda partem de uma leitura parcelar e apressada das mudanças propostas, muitas vezes com base no título de uma notícia ou na inabilidade de comunicação do Governo. (Paulo Ferreira, OBSR)
O escrutínio público e das críticas fundamentadas, o Governo sabe que vai enfrentar resistências de corporações, interesses instalados, opositores políticos e partes interessadas em cada mudança que queira fazer.
O que se está a passar com as mudanças propostas para a Fundação da Ciência e Tecnologia é, a esse nível, muito ilustrativo. Durante décadas, a FCT era um exemplo de mau funcionamento, de atrasos no pagamento de bolsas e de geração de instabilidade na vida dos bolseiros. Perdeu-se a conta aos concursos impugnados, criticados ou polémicos e muitas das denúncias desse caos vinham precisamente dos cientistas e de organizações que dizem representá-los. Agora que o Governo apresenta uma mudança da organização, são essas mesmas vozes que se opõem e defendem o status quo.
O Governo sabe também que uma boa parte das reformas se ganham ou perdem na opinião pública e na forma como a mediana sociológica do país as entender.
Por fim, o Governo não desconhece que as tentativas de mudança causam desgaste político imediato em nome de um eventual reconhecimento futuro — se as mudanças foram efetivas e eficazes.
Se se perder nos aspetos que geram 95% do desgaste apesar de terem apenas 5% de importância de cada dossier, rapidamente o Governo vai perder o foco e em pouco tempo estará ocupado a apagar fogos e a fazer a gestão de danos das pequenas polémicas públicas.
Se está disponível para assumir o custo das mudanças, então que se concentre em assuntos estruturais que podem fazer mesmo a diferença.
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