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sábado, 25 de outubro de 2025

A Frase (233)

Mudam as formas dos rios, das águas, da cor do céu, dos elementos, da Lua, das estações do ano, dos povos, das civilizações e costumes. Mas, antiga e terrível, permanece a teimosa interrogação da vida   (Paulo Ramos, OBSR)

Existirá uma cidadela interior capaz de nos proteger da vulnerabilidade? Não falta quem diga que sim… Quem sabe, contudo, a resposta não seja assim tão cristalina, porque não nos basta proteger do desejo, mas também das feridas – algo que, para um ser finito, talvez não seja possível. As vidas dos corpos finitos são precárias, os objectos que nos acompanham, as relações que mantemos connosco e também com os outros são relações frágeis que se podem quebrar. (...)

Somos, desde o primeiro momento, corpos expostos às feridas causadas pelo mundo, pela vida e pelos outros, e, evidentemente, também às feridas que infligimos ao mundo, à vida e aos outros. Uma ferida não é, portanto, necessariamente sinónimo de dor ou sofrimento, mas de envolvimento, de pathos. O facto de a condição humana ser vulnerável implica que se aceite a existência como estando envolvida por qualquer coisa que não se pode dominar. Algo que nos surpreende, nos invade, nos salta ao caminho e a que nunca somos capazes de dar uma resposta – uma resposta a priori, definitiva e segura, pelo menos (...)

Não há estabilidade na vida humana. Qualquer estabilidade será sempre provisória, momentânea. As ondas são a imagem que expressa o devir, aquele tornar-se necessariamente vulnerável, porque inquieto e também inquietante. (...)

Um corpo vulnerável não pode, mesmo que o desejasse, exorcizar o acaso, porque a qualquer momento acontece o inesperado, o completamente inimaginável, o radicalmente incomum; algo que derrota todos os projectos e obriga a reconstruir a existência; algo que irrompe de repente e provoca agitação. Um corpo vulnerável é configurado mais pelo que lhe acontece do que pelo que faz, é um corpo apaixonado. Temos a tendência de pensar que somos aquilo que fazemos, aquilo que decidimos fazer, quando, na realidade, somos aquilo que nos acontece. Somos vulneráveis porque somos ambíguos e contraditórios.

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