sexta-feira, 8 de maio de 2020

Agora Que Os Donos Da Democracia Recolheram As Bandeiras ...

... Dos dias que julgam deles, talvez já se possa falar de forma substantiva do que se passou.
1- O 25 de Abril tem de crescer. Mais do que celebrar uma data, com uma liturgia desfasada dos novos portugueses, das suas necessidades e ambições, deveria ser um dia para fazer o balanço da Democracia existente. Esse deveria ser o mote da reunião anual no Parlamento. A liturgia oficial, repetitiva, não acrescenta nada e este ano foi particularmente mau. Ferro Rodrigues como uma das imagens da República tornou-se uma máscara terrível, por obrigatória. E o PS faz mal em não estar, hoje, por cálculo político, à altura da coragem de Mário Soares.(...)
2. O 1 de maio trouxe-nos a coreografia da CGTP na Alameda. Uma vergonha para o Estado de Direito. Resumindo: o Presidente da República e o Governo não quiseram problemas com o PCP. Sabiam que, neste tempo de emergência de saúde, os comunistas nunca abdicariam da desobediência para assinalarem o Dia do Trabalhador. Isso traria uma situação difícil para as forças de segurança. O PCP não é a Igreja Católica. Assim sendo, o terceiro período de estado de emergência foi decretado à medida e já trazia a exceção, permitindo à novel líder sindical o seu primeiro comício, que ainda assim desrespeitou a lei com as deslocações.
Bem pode agora Marcelo Rebelo de Sousa tentar sacudir a água do capote. Fica-lhe mal. O melhor é fazer como António Costa: conseguiu o que queria (satisfazer uma parte da antiga geringonça), assobiou e seguiu em frente. Evitou problemas, reconheço. Mas o Estado mostrou que tem um peso e duas medidas. Pior: que quem está ao leme tem sempre um forte poder discricionário. Há uns e há os outros.
3. Rui Rio disse recentemente que as empresas de comunicação social são iguais às de sapatos. Quem segue o percurso político de Rui Rio não pode ficar surpreendido. Eu percebo a lógica, e como tenho o homem em bastante respeito, pela obstinada coerência e idoneidade pessoal, não dou grande importância ao azedume que ele mantém com, e contra, a comunicação social.
Mas, admito: ao ver os telejornais do dia 1 de maio e ao constatar a normalidade com que o assunto da “celebração” da CGTP foi tratado, ao arrepio de qualquer inquietação jornalística, confesso que naquela noite mais depressa dava subsídios à indústria do calçado. Espero que tenha sido apenas uma noite má e que os 15 milhões do Estado em publicidade, que são justos, não anestesiem o jornalismo.
João Marcelino, JE

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