... Dos dias que julgam deles, talvez já se possa falar de forma substantiva do que se passou.
1- O 25 de Abril tem de crescer. Mais do que celebrar uma data, com uma liturgia desfasada dos novos portugueses, das suas necessidades e ambições, deveria ser um dia para fazer o balanço da Democracia existente. Esse deveria ser o mote da reunião anual no Parlamento. A liturgia oficial, repetitiva, não acrescenta nada e este ano foi particularmente mau. Ferro Rodrigues como uma das imagens da República tornou-se uma máscara terrível, por obrigatória. E o PS faz mal em não estar, hoje, por cálculo político, à altura da coragem de Mário Soares.(...)
2. O 1 de maio trouxe-nos a coreografia da CGTP na Alameda. Uma vergonha para o Estado de Direito. Resumindo: o Presidente da República e o Governo não quiseram problemas com o PCP. Sabiam que, neste tempo de emergência de saúde, os comunistas nunca abdicariam da desobediência para assinalarem o Dia do Trabalhador. Isso traria uma situação difícil para as forças de segurança. O PCP não é a Igreja Católica. Assim sendo, o terceiro período de estado de emergência foi decretado à medida e já trazia a exceção, permitindo à novel líder sindical o seu primeiro comício, que ainda assim desrespeitou a lei com as deslocações.
Bem pode agora Marcelo Rebelo de Sousa tentar sacudir a água do capote. Fica-lhe mal. O melhor é fazer como António Costa: conseguiu o que queria (satisfazer uma parte da antiga geringonça), assobiou e seguiu em frente. Evitou problemas, reconheço. Mas o Estado mostrou que tem um peso e duas medidas. Pior: que quem está ao leme tem sempre um forte poder discricionário. Há uns e há os outros.
3. Rui Rio disse recentemente que as empresas de comunicação social são iguais às de sapatos. Quem segue o percurso político de Rui Rio não pode ficar surpreendido. Eu percebo a lógica, e como tenho o homem em bastante respeito, pela obstinada coerência e idoneidade pessoal, não dou grande importância ao azedume que ele mantém com, e contra, a comunicação social.
Mas, admito: ao ver os telejornais do dia 1 de maio e ao constatar a normalidade com que o assunto da “celebração” da CGTP foi tratado, ao arrepio de qualquer inquietação jornalística, confesso que naquela noite mais depressa dava subsídios à indústria do calçado. Espero que tenha sido apenas uma noite má e que os 15 milhões do Estado em publicidade, que são justos, não anestesiem o jornalismo.
João Marcelino, JE
Sem comentários:
Enviar um comentário