Sim, já tinha observado a diminuição de aves que habitualmente sobrevoavam o monte no Alentejo, mas a partir de 2020 foi ainda mais notório. Ao entardecer a presença mais constante era a de três gaviões.
Eis algumas explicações:
sisão |
abelharuco |
Ave migratória típica do montado alentejano, o abelharuco alimenta-se de insetos, principalmente, de abelhas (daí o seu nome) e de vespas. Vê-los é cada vez mais raro. Entre 2011 e 2018 a população desta espécie reduziu-se em 65 por cento, de acordo com uma estimativa da Sociedade Portuguesa para o Estudos das Aves (SPEA), a que o "Diário do Alentejo" teve acesso. Igualmente preocupante é a situação de outras 13 espécies de aves comuns associadas aos habitats agrícolas e que se encontram em declínio acentuado, a começar pela andorinha-das-chaminés e pela andorinha-dos-beirais, cuja chegada e partida dos montes alentejanos indicia, respetivamente, o início da primavera e a chegada do outono. São espécies cada vez mais raras, pois o número de exemplares recenseados baixou para cerca de metade durante o mesmo período.
pintassilgo |
Situação idêntica ocorre, por exemplo, com o pintassilgo (- 43 por cento), com o picanço-real (- 54 por cento), com o peneireiro (- 17 por cento) ou com o pardal-comum (- 29 por cento). O número de cegonhas-brancas é também significativamente menor (- 44 por cento), tal como sucede com o carraceiro (- 23 por cento) ou com o milhafre-preto (- 6 por cento), uma ave de rapina que embora não se encontrando em risco de extinção é muito sensível a fatores como a poluição das águas ou o uso de pesticidas. A perda e a degradação dos habitats, "nomeadamente, a transformação do mosaico agrícola tradicional em monoculturas de grande dimensão, assim como o uso de fitofármacos em grande escala", são explicações apontadas para o declínio destas espécies, em particular das insetívoras, e constituem um "alerta para eventuais mudanças que estejam a ocorrer no meio agrícola com impacto para a biodiversidade", assinala a SPEA.
“Sabemos as causas da maioria destes declínios. Se não agirmos já para as travar estamos a colocar em risco a natureza e a qualidade de vida dos nossos filhos e netos", diz Domingos Leitão, diretor executivo desta associação ambientalista, defendendo a necessidade de "pensar para lá do lucro imediato". "Para salvar o património natural dos nossos campos, Portugal tem que investir muito mais dinheiro da Política Agrícola Comum na gestão adequada dos sistemas agrícolas extensivos, como os mosaicos de cereal e pousio e os olivais tradicionais, que produzem menos mas contribuem para a conservação da biodiversidade, dos solos e da água”, acrescenta.
Ainda de acordo com Domingos Leitão, Portugal "deve deixar de promover o regadio e a agricultura intensiva, abster-se de autorizar projetos imobiliários e turísticos na linha de costa, acabar com a sobre-exploração dos recursos pesqueiros e proteger as reservas e parques naturais do impacto causado por aeroportos, minas e outros projetos destrutivos”.
O relatório "Estado das Aves em Portugal 2019", elaborado pela SPEA, mostra que a redução do número de exemplares das espécies mais comuns não é caso isolado: "Os dados recolhidos em vários programas de monitorização convergem na conclusão de que, como consequência da intensificação da agricultura, com o investimento no regadio intensivo, nas estufas e nos agroquímicos, as aves de zonas agrícolas estão em declínio".
De acordo com a SPEA, em causa está uma "alteração significativa no uso dos solos" no Alentejo, com a conversão de vastas áreas de sequeiro em pastagens permanentes, olivais intensivos, vinhas e outras culturas. "Esta intensificação agrícola não se resume à perda de habitat, pois a sua qualidade também tem vindo a degradar-se, com maiores densidades de gado nas pastagens e o corte de vegetação (fenos) a ocorrer cada vez mais cedo coincidindo com a fase de ovos ou crias nos ninhos. Por outro lado, o uso de fitofármacos e as extensas áreas de monoculturas não promovem a ocorrência de insetos, rebentos e flores de que as crias necessitam para se alimentar", sustenta a associação ambientalista. As colisões com linhas elétricas e a caça furtiva, sobretudo, fora das áreas designadas para a proteção da espécie, são outras causas que justificam uma mortalidade elevada.
“Sabemos as causas da maioria destes declínios. Se não agirmos já para as travar estamos a colocar em risco a natureza e a qualidade de vida dos nossos filhos e netos", diz Domingos Leitão, diretor executivo desta associação ambientalista, defendendo a necessidade de "pensar para lá do lucro imediato". "Para salvar o património natural dos nossos campos, Portugal tem que investir muito mais dinheiro da Política Agrícola Comum na gestão adequada dos sistemas agrícolas extensivos, como os mosaicos de cereal e pousio e os olivais tradicionais, que produzem menos mas contribuem para a conservação da biodiversidade, dos solos e da água”, acrescenta.
Ainda de acordo com Domingos Leitão, Portugal "deve deixar de promover o regadio e a agricultura intensiva, abster-se de autorizar projetos imobiliários e turísticos na linha de costa, acabar com a sobre-exploração dos recursos pesqueiros e proteger as reservas e parques naturais do impacto causado por aeroportos, minas e outros projetos destrutivos”.
O relatório "Estado das Aves em Portugal 2019", elaborado pela SPEA, mostra que a redução do número de exemplares das espécies mais comuns não é caso isolado: "Os dados recolhidos em vários programas de monitorização convergem na conclusão de que, como consequência da intensificação da agricultura, com o investimento no regadio intensivo, nas estufas e nos agroquímicos, as aves de zonas agrícolas estão em declínio".
De acordo com a SPEA, em causa está uma "alteração significativa no uso dos solos" no Alentejo, com a conversão de vastas áreas de sequeiro em pastagens permanentes, olivais intensivos, vinhas e outras culturas. "Esta intensificação agrícola não se resume à perda de habitat, pois a sua qualidade também tem vindo a degradar-se, com maiores densidades de gado nas pastagens e o corte de vegetação (fenos) a ocorrer cada vez mais cedo coincidindo com a fase de ovos ou crias nos ninhos. Por outro lado, o uso de fitofármacos e as extensas áreas de monoculturas não promovem a ocorrência de insetos, rebentos e flores de que as crias necessitam para se alimentar", sustenta a associação ambientalista. As colisões com linhas elétricas e a caça furtiva, sobretudo, fora das áreas designadas para a proteção da espécie, são outras causas que justificam uma mortalidade elevada.
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