O que pode destruir a vida de um político já não é a traição ao seu país mas sim a fuga ao fisco. Todos os crimes que não os fiscais são alegados. Até os homicídios são alegados crimes praticados alegadamente por um alegado homicida. Já no domínio fiscal todos somos culpados à partida. Diante da fita negra da estrada o óbvio torna-se evidente.
Tão esquecidos andamos dos cidadãos que fomos que, como percebo ao longo dessa viagem de regresso, muitos ao ouvir o discurso de Gordon Brown tiveram um sobressalto. Não era apenas o que ele dizia mas sim o eco que ele despertava em quem o ouvia, esse eco que vinha do tempo em que se fora cidadão antes de contribuinte, em que não se estava reduzido a um NIF cuja relação com o Estado é quase só uma questão de escalão de IRS, benefício fiscal e pagamento da respectiva taxa.

Não é por acaso que os discursos políticos do centro esquerda e direita mal se distinguem entre si – eles não se distinguem porque não existem – e que vemos a luta pela liderança do PS português ou dos gaulistas em França transformadas em combates de personalidades: não há discurso. Os actuais líderes políticos são a gera
ção que ficou sem discurso e a quem uma multidão de analistas, assessores e jornalistas garante que não podem dizer o que sabem ser inevitável – o que chamamos direitos adquiridos não estão garantidos e vão deixar de ser direitos – sob risco de desiludir o eleitorado.
Helena Matos,(excertos) 'O paraíso mudou de reino'
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