sábado, 7 de maio de 2016

Bióloga Descobre A Origem De Estranhas Estruturas Circulares Encontradas Em Grutas Portuguesas Que Permaneciam Misteriosas Há Mais De um século

Ana Sofia Reboleira bióloga portuguesa, descobriu que uma espécie de milpés única em Portugal tece em grutas uma complexa estrutura de lama e seda cuja origem misteriosa os cientistas tentavam desvendar há mais de um século.

As “estranhas estruturas circulares com um pequeno orifício” eram encontradas em grutas portuguesas, mas, segundo Sofia Reboleira, “durante mais de um século ninguém sabia quem as produzia”.

De acordo com a cientista, trata-se de “um tipo de câmara muda completamente nova no mundo animal, produzida por uma espécie de milpés (o Lusitanipus alternans) que só existe nas grutas do centro de Portugal”, e que Sofia Reboleira reencontrou em 2006, mais de um século depois de ter sido descrita.

Segundo a bióloga estes milpés constroem estas estruturas para fazer uma muda, processo fisiológico no qual se libertam do exoesqueleto  antigo emergindo com um novo exoesqueleto maior e mais flexível que permite ao animal crescer.

Aparentemente formada por lama das grutas, essa complexa estrutura arquitectónica composta por lama processada pelas peças bocais do animal e intrincada por finíssimos filamentos de seda, mil vezes mais pequenos do que um milímetro, pois os milpés, tal como as aranhas, produzem seda através de umas fieiras que têm no extremo posterior do seu corpo.

A investigação revelou que os milpés “demoram cinco dias” a construir a estrutura onde “permanecem mais de um mês a salvo dos predadores, até que todo o processo de muda esteja completo e possam caminhar de novo no exterior, deixando a câmara através de um pequeno orifício”.

A mudança do esqueleto é “uma altura crítica na vida do animal, que fica num estado letárgico e completamente vulnerável aos predadores”. Para a bióloga, isto evidencia a importância daquelas construções de “grande resistência”.

A descoberta decorre de uma investigação desenvolvida no Museu de História Natural da Dinamarca, parte da Universidade de Copenhaga e publicada na quinta-feira na revista científica Arthropod Struture and Development.

A investigação é resultado de um projecto liderado pela cientista portuguesa e financiado pelo Conselho Dinamarquês para a Investigação Independente e conta com a colaboração do professor Henrik Enghoff, da mesma instituição.
O objectivo era estudar a transmissão de fungos que só crescem naqueles animais, mas acabou por resultar numa “descoberta notável”, quando ainda “são raríssimos os estudos sobre o comportamento e o desenvolvimento dos invertebrados que habitam o meio subterrâneo”.

Nos últimos anos a investigadora foi responsável pela descoberta e descrição de 28 novas espécies para a ciência de grutas em Portugal, um património nacional único que, ao contrário de outros países europeus, se encontra completamente desprotegido
.
Os milpés, conhecidos em Portugal como ‘maria-café’, pertencem à classe dos invertebrados e têm corpos cilíndricos e muitas patas, fazendo por vezes lembrar, à primeira vista, as centopeias.

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