A pouco e pouco, nada escapa: governantes, presidentes de câmara, altos funcionários, professores (suspeitos de violar o segredo dos exames), banqueiros, gestores de grandes empresas, dirigentes dos maiores clubes de futebol, presidentes de associações de solidariedade, juízes, magistrados… Há alguma classe ainda fora da lista dos arguidos?
Perante a subida da maré, com a água pelos joelhos, a oligarquia deita a mão a tudo o que promete flutuar. Há os que se escondem atrás das costas largas do “populismo”, queixando-se muito da suposta aliança entre o activismo da justiça e o sensacionalismo da imprensa. Mas que querem? Se houve quebra da lei, a justiça não deve actuar? Se a justiça actua, a imprensa deve conservar-se silenciosa?
Percebemos porque o regime anda tão nervoso. Para além das prevaricações que possam ter ocorrido e ser provadas em tribunal, o que começa a ficar à mostra é a rede opaca de contactos, de cumplicidades, de jeitos e de favores que une entre si a oligarquia do regime. Chamamos-lhe “corrupção”, e com essa palavra, pensamos em gente a enriquecer ilegalmente. Mas — e se esta for também, para além de quaisquer ganhos ilegais, a maneira de o regime funcionar? E se tivermos aqui, nos arranjos e nas amizades que ligam os seus figurantes uns aos outros, a relojoaria profunda do regime, sem a qual não pode existir? (continuar a ler)
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