Talvez o acirramento das posições políticas recentes não reflita diferenças ideológicas profundamente enraizadas, como muitos acreditam.
Michael Macy e seus colegas da Universidade Cornell (EUA) estão propondo uma interpretação fundamentalmente diferente para esses radicalismo: Pode ser meramente uma questão conhecida popularmente como "maria vai com as outras", em que as pessoas mergulham em uma opinião sem uma adequada ponderação sobre ela.
Para uma explicação tão "inovadora", a equipe se baseou em um fenómeno chamado cascata de opinião, no qual os partidários se amontoam ao redor de qualquer posição que surja e que eles identifiquem com seu partido ou com sua postura de direita (conservadores) ou esquerda (progressistas).
"Por que os principais partidos políticos mudaram de posição em questões como livre comércio, orçamentos equilibrados, legalização da maconha, casamento entre pessoas do mesmo sexo e confiança na ciência? E como é que os eleitores de ambos os lados geralmente têm posições contraditórias sobre os direitos ao aborto e pena de morte?" enumera Macy.
Conservadores e progressistas revelam-se pela linguagem
Mundos paralelos
Para tentar encontrar respostas para essas questões, Macy idealizou uma experiência para recriar os primeiros momentos da formação de opinião em torno de um tema.
Efeito manada
Os resultados mostraram como um punhado de "primeiras opiniões" pode desencadear uma cascata na qual mais tarde os partidários se aglomeram na nova posição emergente associada ao seu partido, levando eventualmente a grandes diferenças políticas.
A grande surpresa foi que a parte que apoiou a questão em um mundo teve a mesma probabilidade de se opor à questão em outro mundo - ou seja, as pessoas não defendiam opiniões pessoais bem fundamentadas, elas apenas pareciam se juntar a uma espécie de "efeito manada".
"Em um mundo, foram os democratas que preferiram usar a inteligência artificial para detetar criminosos on-line e, em outro mundo, os republicanos," contou Macy. "Em um mundo, os democratas eram favoráveis aos livros clássicos e, em outro mundo, os republicanos preferiam os clássicos. Em um mundo, os democratas eram mais otimistas em relação ao futuro e, em outro mundo, eram os republicanos".
O investigador afirma esperar que essas descobertas ajudem a civilizar o discurso político e amenizar as polarizações.
"No nosso mundo, as divisões políticas são defendidas ferozmente demais. Os dois lados ficam muito excitados, o que parece indicar que as posições são divisões fundamentais profundamente enraizadas. Mas o nosso estudo sugere que essas posições podem ser apenas marcadores de identidade, como adesivos, o resultado de cascatas de opinião que levaram as pessoas a uma posição com as quais elas se identificaram emocionalmente.
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